O grande teste mesmo, que permitirá medir a extensão da disposição de se passar a limpo as instituições políticas, é o julgamento do mensalão

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A pilantragem geral na qual afunda a política brasileira não deixa de provocar um misto de estupefação e revolta na sociedade. Surpreende a desfaçatez com que representantes eleitos com a responsabilidade de defender o interesse coletivo fazem exatamente o contrário, dilapidando o patrimônio público em benefício próprio. O noticiário político diário vem sendo pródigo em escancarar os desmandos de uma classe que parece se considerar acima de qualquer responsabilização pelos malfeitos cometidos.

Se esse é o cenário que constrange os cidadãos de bem, alguns sinais positivos de que é possível mudar o atual estado de coisas começam a ser percebidos. Resultado da ação de instituições como a OAB, o Ministério Público, a imprensa e de organismos não governamentais, já é possível contabilizar alguns avanços importantes para o resgate da ética na função pública. Assim é que em âmbito estadual, as irregularidades que grassaram na Assembleia Legislativa e na Câmara Municipal de Curitiba foram estancadas, com o afastamento daqueles que diretamente comandavam as falcatruas. É verdade que muita coisa ainda está por ser posta em pratos limpos nesses dois poderes, o que se espera que ocorra com as investigações que estão em curso. De qualquer forma, no novo tempo que se almeja para o meio político paranaense, não pode mais existir lugar para os Bibinhos, Derossos e Cia.

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Na esfera federal, a farra de políticos inescrupulosos acostumados com a impunidade vem sofrendo alguns reveses. A começar pela atitude da presidente Dilma Rousseff de defenestrar sete ministros suspeitos de atos ilícitos. O fato mais recente a dominar as manchetes são as relações espúrias que entrelaçam alguns políticos e empresários com o contraventor Carlinhos Cachoeira. O episódio, que espelha bem a que ponto é possível descer o nível da política e dos políticos, ensejou a abertura de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito. Como foco principal das investigações está o senador goiano Demóstenes Torres, tido até então como um dos paladinos da moralidade no Congresso. Suspeito de utilizar o cargo parlamentar para beneficiar os interesses do bicheiro, Demóstenes teve o processo disciplinar por quebra de decoro parlamentar aprovado no Conselho de Ética do Senado. Diante dos fortes indícios, é dado como certo que Demóstenes perderá o mandato quando da votação em plenário.

Mas outros peixes graúdos também nadaram nas águas de Cachoeira, como os governadores Marconi Perillo (PSDB-GO), Sérgio Cabral (PMDB-RJ) e Agnelo Queiroz (PT-DF), aparecendo ainda no conluio uma empreiteira, a Delta, beneficiária de milhões em obras, tanto no governo federal como em governos estaduais. As evidências de ilicitudes no imbróglio Cachoeira são inúmeras e o que se cobra da CPMI é a completa apuração. Não é cabível imaginar que os fatos não venham a ser levantados com o máximo rigor, ainda que interesses velados possam pressionar para que tudo acabe em pizza.

Mas o grande teste mesmo, que permitirá medir a extensão da disposição de se passar a limpo as instituições políticas do país, é o mensalão. O caso, de longe o maior escândalo político da história republicana brasileira, precisa ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal o quanto antes, até para evitar que os crimes prescrevam. O golpe tinha como objetivo garantir apoio no Congresso no primeiro governo do ex-presidente Lula, mediante pagamento de mesada aos parlamentares da base de apoio. O ministro José Dirceu, segundo a denúncia do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, foi o principal mentor do mensalão, contando para tanto com o conluio de parlamentares, banqueiros, empresários e publicitários. Julgar em tempo hábil os mensaleiros, de forma a banir da vida pública uma penca de maus políticos, será passo considerável na faxina que se espera esteja começando a ocorrer na política brasileira.