Em meio a uma série de indicadores mais positivos para a economia, um deles passou o ano inteiro cambaleando, sem apontar para uma direção definida: a produção industrial. No início do ano, os meses em que a produção crescia eram seguidos por quedas; depois, um trimestre inteiro de redução, de maio a julho, e na sequência três meses de alta, entre agosto e outubro. E o dado mais recente da Pesquisa Industrial Mensal – Produção Física, relativo a novembro e divulgado na quinta-feira pelo IBGE, traz nova queda, de 1,2%. Com isso, no acumulado de 2019, faltando apenas os dados de dezembro, a produção industrial tem recuo de 1,1%. “Com esses resultados, o setor industrial se encontra 17,1% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011”, afirmou o IBGE, em referência à época em que vigorou a política econômica de incentivo ao consumo irrestrito como forma de alavancar o crescimento.
Há alguns fatores externos a considerar, como o impacto da crise argentina sobre as exportações industriais brasileiras, especialmente as do setor automotivo, que registrou recuo de 4,4% em novembro. No entanto, e apesar do peso deste setor nos dados consolidados da indústria, os dados do IBGE mostram que a queda na produção industrial é generalizada, atingindo as quatro grandes categorias – bens de consumo duráveis (-2,4%), bens intermediários (-1,5%), bens de capital (-1,3%) e bens de consumo semi e não duráveis (-0,5%) –, além de 16 dos 26 setores analisados. No acumulado do ano, também são 16 os setores com produção em queda. Ou seja, apesar de algumas ilhas de excelência e bons resultados, o cenário geral é muito preocupante.
O Brasil ficou para trás na corrida tecnológica nas últimas décadas, e também larga na rabeira quando o assunto é a Quarta Revolução Industrial
A indústria continua a ser uma das locomotivas econômicas do país. Se estiver enfraquecida, o potencial de crescimento do Brasil fica seriamente prejudicado. As projeções de um avanço acima de 2% no PIB em 2020 dependem de uma recuperação neste setor, que também teria impacto muito positivo no combate ao desemprego e na geração de renda, já que as vagas na indústria costumam remunerar melhor que em outras áreas, em média. Segundo o Caged, do Ministério da Economia, a indústria de transformação tem saldo positivo de 124 mil vagas no ano, considerando os dados compilados até novembro – o número corresponde a 13% do total de novos postos de trabalho criados no acumulado de 2019; os dados de dezembro ainda não foram divulgados, mas há uma tendência histórica de saldo negativo no último mês do ano, com o fim das encomendas para o Natal.
Algumas das condições para uma recuperação da indústria já estão postas, como a redução nos juros, que facilita os investimentos. No entanto, ainda há outros indicadores que estão demorando a engrenar; o alto desemprego, por exemplo, mantém baixa a demanda por produtos industrializados; com isso, a capacidade ociosa do setor, sempre ressaltada pelo Copom em seus relatórios, continuará sem utilização por um bom tempo.
Por motivos os mais diversos, que incluem burocracia e protecionismo, o Brasil ficou para trás na corrida tecnológica nas últimas décadas, e também larga na rabeira quando o assunto é a Quarta Revolução Industrial, seja pelo estado atual de seu parque, seja pela falta de mão de obra e de gestores preparados para a indústria 4.0. A chamada “desindustrialização precoce” é um fantasma contra o qual o país tem de lutar, até porque seu setor de serviços ainda não está suficientemente avançado para ocupar satisfatoriamente o lugar da indústria, como ocorreu em nações desenvolvidas que fizeram essa transição sem comprometer a renda da população.
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