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Bolívia e Venezuela aproveitaram o 1.º de Maio para estabelecer mais um marco em sua caminhada rumo ao que seus respectivos presidentes, Evo Morales e Hugo Chávez, definem como "socialismo do século 21". A última tacada, em ação bem coordenada, deu-se com o anúncio simultâneo da nacionalização de suas reservas de gás e petróleo e da assinatura de contratos por meio dos quais os governos passam a deter o controle acionário das empresas petrolíferas estrangeiras que operam em seus países.

A Petrobrás é uma das empresas atingidas. Vítima há um ano do confisco (sob a força de armas) de duas das refinarias que mantinha na Bolívia – responsáveis por 70% do fornecimento de combustíveis para o próprio país –, a estatal brasileira até hoje não conseguiu ver concluídas as negociações visando à necessária e justa indenização pela perda de seus ativos. É este o "detalhe" que impediu que também o Brasil assinasse a transferência do controle acionário de suas operações bolivianas para o governo de Evo Morales durante a festa do Dia do Trabalhador. Mas todas as outras grandes empresas norte-americanas e européias com bases na Bolívia o fizeram.

Simbolicamente, foi este o dia em que se deu, definitivamente, a passagem do discurso para a prática. O discurso contra o neoliberalismo – pedra de toque da "revolução bolivariana" deflagrada e propagada por Hugo Chávez desde que assumiu o poder venezuelano, há oito anos –, passou a dar lugar à prática do controle estatal absoluto sobre o mais estratégico setor econômico de ambos os países.

Tudo isso soa muito estranho em um mundo que caminha em sentido diametralmente oposto. O que se vê no resto do planeta é um esforço coletivo no sentido de abrir as economias nacionais, de atrair o poder de investimentos da iniciativa privada, de dar dinamismo do mercado – uma política derivada do Consenso de Washington que, a despeito do aguçamento das desigualdades em muitos lugares, tem produzido mais frutos positivos dos pontos de vista econômico e social do que conseguiu o carcomido socialismo de inspiração marxista em décadas de predomínio em países do Leste Europeu e na Ásia.

A experiência de Chávez decididamente não recomenda a expansão do modelo para outros países da América Latina, muito embora, animados pela ajuda dos petrodólares que o ditador generosamente espalha, alguns deles venham sucumbindo à adoção do socialismo bolivariano. O caso mais notório é exatamente o da Bolívia de Evo Morales, discípulo exemplar do onipotente presidente venezuelano.

Os oito anos do regime que implantou na Venezuela, de fato, não conseguiram senão desorganizar a estrutura produtiva – inclusive a do petróleo, a principal riqueza – ou reduzir a miséria de seu povo. Ao contrário, aprofundaram-se os níveis de desemprego e pobreza; as taxas de criminalidade só fizeram crescer (é de Caracas, atualmente, o maior índice da América Latina). O regime se sustenta por medidas de caráter meramente populista. Graças aos pesados subsídios governamentais, o povo tem acesso a comida e a remédios mais baratos, mas não vê a abertura de oportunidades consistentes de trabalho e renda.

Trata-se, pois, de um "socialismo de papel", predominantemente retórico e anacrônico, que de "século 21", como marco de modernidade, nada tem. A nacionalização das reservas e da sua exploração industrial atende aos conceitos bolivarianos, mas certamente não será capaz de promover o bem-estar dos povos que aderiram a eles.

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