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Editorial 1

Tempestade global

Novamente o mês de setembro produziu uma catástrofe em território norte-americano. Desta vez foi uma catástrofe genuinamente nacional, fabricada por imprudentes instituições financeiras dos Estados Unidos. No ano passado foram os agentes financiadores de imóveis, que amargaram enormes prejuízos depois que os devedores tornaram-se inadimplentes em grande escala e após descobrir-se que os imóveis valiam menos do que o saldo das dívidas. A crise espalhou-se por outras instituições e chegou ao fundo do poço, de forma bombástica, nesta segunda-feira dia 15/9, com o pedido de concordata do Lehman Brothers, um banco de investimento de 158 anos, cujas dívidas informadas são de US$ 613 bilhões.

Anos de prosperidade econômica levaram empresas, governos e instituições financeiras a uma busca obsessiva por crescimento a qualquer custo, agindo de forma imprudente e adquirindo fragilidades que torna todos excessivamente vulneráveis a qualquer tempo de vacas magras. A base da crise do Lehman Brothers são operações de baixa qualidade, acúmulo de prejuízos e jogadas financeiras arriscadas. Tendo recebido negativa ao pedido de socorro dirigido ao Fed, que é o Banco Central americano, o Lehman Brothers pediu concordata, no momento em que duas outras instituições, a Merrill Lynch (que tem a maior corretora de varejo dos EUA) e a AIG – American International Group (que é a principal companhia de seguros americana) debatem-se em grandes dificuldades. O mercado tinha esperança de que tanto a Merrill quanto a AIG conseguissem uma solução de mercado, sobretudo a hipótese de serem adquiridas por outras instituições, o que não havia ocorrido até a segunda-feira.

O mercado americano desabou, e a Bovespa refletiu o pessimismo, apresentando queda de 7,59% somente no primeiro dia desta semana. A maior preocupação por aqui é tentar adivinhar em que medida o Brasil sofrerá com essa crise. Os preços das ações na Bovespa despencaram porque investidores estrangeiros em ações brasileiras estão vendendo, para levar o dinheiro ao exterior, e também porque muitas empresas que têm ações na Bovespa são do ramo de commodities agrícolas, cujos preços caíram, piorando a expectativa de lucros dessas companhias. O Brasil não está sofrendo mais com a crise externa pelo fato de o nosso sistema financeiro ser pouco integrado aos mercados financeiros globais. Os bancos brasileiros e os fundos de investimentos em reais não são aplicadores em ativos financeiros nos EUA em volumes capazes de colocá-los em risco. Todavia, não dá para afirmar qual a extensão da imunidade brasileira, pois o que mais ressalta em meio à crise é a confusão de dados e informações.

A crise que aí está ainda vai causar muitos prejuízos, mas em algum momento ela acabará e o mundo deverá recuperar-se, ainda que de forma lenta, e quem sabe mais bem-preparado e mais regulado. Os dois candidatos à Presidência dos Estados Unidos apressaram-se em declarar que vão arrochar a regulamentação sobre o mercado financeiro. Bancos dependem de três pilares para se manterem fortes: conservadorismo, boa regulamentação e fiscalização implacável.

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