O ano de 2020 começou com tensão absoluta no Oriente Médio, com o ataque norte-americano a um comboio que se dirigia ao aeroporto de Bagdá, no Iraque, e que matou um general iraniano – Qasem Soleimani era comandante das Forças Quds, a unidade de inteligência da Guarda Revolucionária iraniana. Além disso, também foi morto o iraquiano Abu Mahdi al-Muhandis, comandante das Forças de Mobilização Popular do Iraque, milícia apoiada pelo Irã. O regime comandado pelo aiatolá Ali Khamenei e pelo presidente Hassan Rohani prometeu “retaliações severas” e as consequências na região, nos Estados Unidos e nos mercados globais são imprevisíveis.
O Iraque já vivia uma escalada de violência antes do bombardeio autorizado pelo presidente Donald Trump. A ação desta sexta-feira foi uma retaliação à invasão da embaixada norte-americana no Iraque, iniciada em 31 de dezembro e que durou dois dias. No dia 27, o grupo xiita Kataib Hezbollah já havia atacado uma base dos Estados Unidos no Iraque, matando um civil norte-americano. A reação e o comunicado do Pentágono após o bombardeio, alegando que Soleimani planejava ataques contra diplomatas e funcionários norte-americanos, indicam que uma linha havia sido cruzada e que os EUA não tolerariam a morte de seus cidadãos – na crise anterior, em junho de 2019, quando o Irã derrubou um drone norte-americano, mas sem vítimas, a opção de Trump foi pelas sanções econômicas.
O regime xiita iraniano tem sido um elemento de desestabilização no Oriente Médio há muitos anos
O regime xiita iraniano tem sido um elemento de desestabilização no Oriente Médio há muitos anos, especialmente por seu financiamento a grupos terroristas como o Hezbollah. Com o caos provocado no Iraque – primeiro, com a invasão norte-americana que depôs o ditador sunita Saddam Hussein em 2003; depois, com a retirada das tropas, entre 2007 e 2011, antes que o país estivesse pacificado –, o país se tornou terreno fértil para milícias xiitas apoiadas pelo Irã, como as que formam as Forças de Mobilização Popular. Curiosamente, estes mesmos grupos xiitas têm um objetivo em comum com os norte-americanos, pois eles participam do combate ao Estado Islâmico, grupo terrorista de inspiração sunita que também se beneficiou da anomia iraquiana após a retirada norte-americana, chegando a dominar áreas extensas no norte do país.
O que, exatamente, o regime iraniano pode fazer, além de intensificar as guerras que trava indiretamente no Oriente Médio por meio dos grupos que apoia, é incerto. Em junho de 2019, em meio a uma crise de ataques a petroleiros, o governo iraniano havia anunciado sua intenção de seguir em frente com o programa de obtenção de armas nucleares, embora seja improvável que Khamenei e Rohani já tenham uma bomba que possam usar como elemento de dissuasão. Mais prováveis, como lembrou o colunista da Gazeta do Povo Filipe Figueiredo, são ataques a alvos norte-americanos mundo afora, usando os terroristas do Hezbollah. O Irã também tem a capacidade de prejudicar ou interromper o fluxo do petróleo no Golfo Pérsico, e o preço da commodity já teve forte alta nesta sexta-feira.
E são as consequências econômicas de uma eventual resposta iraniana que podem ter maiores implicações no front interno norte-americano. O processo de impeachment tem arranhado mais a imagem dos democratas que a de Trump, motivo pelo qual é difícil supor que o bombardeio fosse uma tentativa de desviar a atenção da opinião pública norte-americana. A escalada na presença militar americana na região – o que é diferente de ações pontuais como retaliação contra a morte de cidadãos dos Estados Unidos – também iria contra a plataforma de campanha vitoriosa em 2016. Mas um minichoque do petróleo pode afetar os ótimos indicadores econômicos que Trump exibirá em sua campanha pela reeleição.
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