Cesare Battisti, um ex-ativista italiano condenado em seu país à prisão perpétua por quatro assassinatos, ganha, definitivamente, a condição de cidadão livre no Brasil. Por seis votos a três, o Supremo Tribunal reconheceu na noite de quarta-feira como um ato soberano a decisão do ex-presidente Lula de negar a entrega do bandido ao governo da Itália para o cumprimento da pena. Tecnicamente uma decisão jurídica correta do STF como consequência da anterior, ocorrida em julgamento no mês de novembro de 2010, esta sim a merecer reparos por ter autorizado a extradição e ao mesmo tempo transferir para o então chefe da Nação a decisão de cumprir ou não a norma. Recorde-se que Lula, em seu último dia na presidência, optou por mantê-lo no Brasil na condição de refugiado político, ignorando os apelos do governo da Itália pela sua extradição. Nem mesmo os laços de amizade que unem Brasil e Itália e os tratados de reciprocidade para a troca de prisioneiros foram suficientes para demovê-lo da intenção de dar guarida ao italiano.
Com isso Battisti, em cujos ombros pesam a autoria das mortes, já está solto e assim permanecerá graças ao beneplácito de Lula, cujos pendores e admiração por governos totalitários e por terroristas travestidos de revolucionários nunca foram ocultados. Uma política vesga que já levou o Brasil a ignorar o desrespeito aos direitos humanos e à democracia em países como Cuba, Venezuela, Irã e Coréia do Norte e a enaltecer ditadores do quilate de Fidel Castro e Mahmoud Ahmadinejad. Sob esse prisma, o esperado epílogo do caso Battisti é mais um no lamentável rosário de equívocos cometidos pelo seu governo no campo das relações internacionais.
"Uma humilhação às vítimas do terrorismo", assim manifestou-se a ministra da Juventude da Itália, Giorgia Meloni, ao tomar conhecimento da decisão do STF de manter Battisti em solo brasileiro. Inconformado, o governo italiano tentará ainda uma última cartada perante a Corte de Justiça de Haia, na Holanda, onde pretende entrar com recurso para reverter a libertação do criminoso. Cabe indagar se o terrorista vale o ônus do desgaste internacional que o Brasil vem sofrendo desde que optou por não devolvê-lo ao seu país de origem para responder pelos crimes cometidos.
Se Battisti é lamentavelmente um caso encerrado, salvo uma improvável reviravolta, resta esperar que com Dilma Rousseff o Brasil aposente de vez os rumos tortuosos da diplomacia lulista. Essa, aliás, parece ser a postura da presidente, que mesmo antes de assumir já dava sinais de pretender seguir por outros caminhos. Tanto que chegou a condenar explicitamente a violação dos direitos humanos no Irã e na Líbia, algo que seria impensável ao tempo de Lula.