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Curitiba carrega o cetro e a coroa de cidade ecológica – não o é de todo, mas também não se trata de balela. O comparativo com outras capitais a coloca em franca vantagem. A capital soma 26 parques, 15 bosques e uma boa performance diante das recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS), que determina o mínimo de 12 metros quadrados de área verde por habitante. Aqui, a marca seria de 64,5 metros quadrados por habitante. Estocolmo, na Suécia, tem 86 metros. A seu favor, ainda, a cidade soma mais de 20 anos de programas de educação ambiental. Há em Curitiba uma cultura de preservação e reciclagem.

Mas nada de deitar em berço esplêndido. Há muita lenha, com perdão pela expressão. A Secretaria Municipal de Meio Ambiente tem se lançado em levantamentos cada vez mais precisos sobre a real situação das áreas verdes na capital. O saldo inicial é positivo. Confirma a supremacia verde de Curitiba, mas a lupa da tecnologia disseca os pecadilhos da capital paranaense. O mapeamento – cada vez mais preciso – tende a mostrar o que antes era quase invisível: há um bom somatório de pequenas áreas verdes na cidade, muitas delas particulares. Uma vez somadas, têm potencial para alterar a ordem dos mapas.

Ao colocar na conta também as miudezas verdes, o balanço mexe na percepção geral de que "Curitiba não é mais tão ecológica assim". Os índices são mais alvissareiros do que se previa. Mas lidar com esses dados que estavam fora da conta é que são elas. O cenário é positivo na divisão da área verde total pelo número de habitantes, mas não se pode dizer o mesmo quando se olha bairro a bairro. Uma coisa é Pilarzinho e Vista Alegre, São João, Lamenha Pequena, Augusta e Riviera, Umbará e Caximba. Ou mesmo o Santa Cândida, melhor colocado entre os que têm acima de 30 mil habitantes. O mesmo não se pode dizer da parte ocupada há mais tempo na Zona Sul. No balanço geral, resta um pouco de desânimo: 24 dos 75 bairros da cidade estão abaixo do recomendado pela OMS. Quase 30% dos curitibanos não desfrutam das árvores e quetais que lhe são de direito, pois as zonas verdes existem, sim, mas num parque bem bonito, longe dos endereços da maioria. Questão sem remédio? Não.

O estudo da Secretaria Municipal do Meio Ambiente foi esmiuçado pela jornalista Katia Brembatti na Gazeta do Povo de 5 de junho. Mostra os tradicionais Batel e Água Verde pagando o preço da verticalização desmedida. Área verde, nesses lugares, é vaso de planta nas sacadas. Tão grave quanto o caso do Capão Raso – bairro que há 40 anos era arrabalde, como o próprio nome sugere, mas que vive na base do jardinete, categoria paliativa tanto na gestão do lazer quanto da área verde. A CIC avança na mesma direção, a do concreto, mas ainda mantém o mínimo necessário para um respiro profundo. Resta saber o que fazer para que não repita o mesmo destino dos bairros vizinhos.

O primeiro passo é "combinar". Precisamos entender as especificidades dos pequenos, médios e grandes espaços, o que podem e o que não podem oferecer. Os espaços menores mudam a geografia ambiental, mas isso não implica que o conceito de biodiversidade tenha caducado. As cidades precisam dos préstimos de grandes áreas de matas. Plantar árvore no passeio da rua não resolve o impasse do meio ambiente, não substitui os ganhos da biodiversidade. A novidade é que a cada dia mais se entende qual o papel da arborização "no varejo", como um elemento a mais da política ambiental.

Uma árvore sozinha não garante a biodiversidade, mas soma pontos na garantia de solos permeáveis, filtragem de ar, melhorias térmicas, bem-estar, relação da população com o espaço. A lista de benefícios é longa e inspiradora. Nas entrelinhas, esses estudos sugerem o refinamento dos dados, de modo a servi-los num banquete variado, com sabores inimaginados. O poder que esse processo tem de gerar uma força-tarefa em torno da saúde das cidades é impressionante.

Um dos instrumentos é o projeto internacional Green Map, que cartografa a saúde ambiental de 850 cidades. Noves fora, o programa destaca a supremacia verde de Curitiba. E permite que a população informe a existência de pequenas áreas perto de suas casas. Contabilizadas, essas zonas podem mudar a percepção ambiental ou mesmo garantir a preservação de divisas pouco visíveis, logo mais vulneráveis.

Essas investigações todas indicam haver mais áreas verdes públicas do que o imaginado. A cascata de informações disponíveis já mexeu com as governanças. Deve mexer também com a população. Num mundo cada vez mais complexo, tem grande poder de fogo a oportunidade de poder experimentar a preservação, com um clique. A rua de baixo, essa nós podemos salvar.

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