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Governar é construir estradas. Atribui-se a frase a Washington Luís, o último presidente da República Velha, que, aliás, não chegou a concluir o mandato iniciado em 1926, apeado do poder pela Revolução de 30. Antes, Washington Luís governara São Paulo, quando centrou sua administração na construção de rodovias, daí ter consagração do lema. Uma prioridade inteiramente procedente. Basta imaginar como era o país nos anos 20. Além disso, sem nenhum deslustro ao talento do administrador, Washington Luís adorava carros e até arriscou algumas participações em – como se grafava na época – reides automobilísticos.

A mesma febre de abrir estradas parece estar de volta hoje, mas no Paraná, e com outro sentido, não exatamente aquele de desbravar sertões e estender as malhas que assentariam o progresso.

É uma das inúmeras e notórias liças do governador Roberto Requião. Um mês depois de iniciar o terceiro mandato, Sua Excelência retomou a luta contra o pedágio, que, conforme promessa da segunda campanha eleitoral, baixaria ou acabaria. Nem uma coisa nem outra. Agora temos o pretensioso programa Estradas da Liberdade. De nome pomposo, prevê rotas alternativas para que o usuário possa optar por um desvio em pelo menos 16 das 27 praças de rodovias pedagiadas. Até o fim do governo, anuncia-se R$ 200 milhões para melhorar as condições dos caminhos alternativos.

A disposição do governador vai mais longe. "Demostramos com clareza que o Paraná nem o Brasil precisam de pedágio. Temos pedágios virtuais que não implicam em contratação de funcionários, nem barreiras nas estradas", sentencia ele.

Investir em eixos antipedágio, porém, não seria admitir a derrota na Justiça, segundo o Palácio Iguaçu. Até porque ainda correm 44 ações judiciais. Para a Associação Brasileira de Concessionárias de Rodovias (ABCR-PR), o projeto Estradas da Liberdade não passa de um ato simbólico para justificar a promessa de campanha. O famoso jogar para a torcida. De qualquer modo, respeite-se a voz da Justiça, que ainda não se fez ouvida de modo cabal, definitivo.

Até lá, no entanto, cabem algumas considerações, como, por exemplo, a de que o Estado ainda não colocou em prática a lei de 2002 que regularia o sistema de pedagiamento no Paraná. Tal responsabilidade continua nas mãos férreas do governo via Departamento de Estradas e Rodagem (DER) e Instituto Tecnológico do Paraná (Tecpar).

Entre os estados que possuem concessões de rodovias, o Paraná é o único que não deu a devida atenção à criação de uma agência reguladora. A exemplo do que ocorre em São Paulo, ela cuidaria dos vários serviços públicos de infra-estrutura relacionados ao transporte, entre eles as concessões rodoviárias. E a agência poderia muito bem mediar os diferentes interesses em conflito. Dos usuários, das concessionárias e dos próprios governos.

Mas, se promessa de campanha é dívida, a do pedágio que baixaria ou acabava já fez história, e até vale a intenção de honrá-la, desde que isso não represente um bosquejo de engodo visando ganhar mais tempo, uma arriscada aposta na possível memória fraca do eleitor quanto a um compromisso assumido solenemente. Assumido e reiterado.

Porque aí, na palavra empenhada, ao contrário das pistas pedagiadas ou não, o caminho não tem retorno.

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