A sucessão de erros cometidos na condução da política econômica na Grécia é uma oportunidade para observação e aprendizado, a fim de que o Brasil não caia na tentação de trilhar os mesmos caminhos equivocados. Além dos dramáticos problemas econômicos, a Grécia deparou-se com conflitos sociais, revoltas e greves, como consequência das medidas duras que o país teve de adotar em face da deterioração das contas nacionais. Aquele país legou ao mundo as melhores obras de filosofia, de política, de arte, de literatura e as conhecidas "tragédias gregas". Desta vez, porém, a tragédia não é obra de ficção, mas uma realidade cruel de uma nação que abusou do direito de errar por muitos anos na condução da política econômica.

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Os erros cometidos pela Grécia são, até certo ponto, conceitualmente simples e fáceis de entender, destacando-se a desordem nas contas públicas, os déficits públicos crônicos, a aprovação de despesas sem previsão orçamentária, o desleixo com as contas externas e o endividamento excessivo do governo. Três pontos sobre os quais o mundo chegou ao consenso são os de que a inflação é um mal, o déficit público elevado destrói a economia e o desesquilíbrio no balanço de pagamentos gera recessão. Assim, para não padecer desses males, o país deve manter as contas públicas equilibradas, a dívida do governo não deve fugir do razoável e a política cambial deve ser capaz de equilibrar as contas do país com o resto do mundo.

A complexidade da economia requer vontade firme e ação competente do governo, para ser eficiente na gestão das variáveis que interferem no resultado final. Quando a Grécia aprovou despesas públicas sem previsão de receita, concedeu benefícios sociais além da capacidade financeira do Tesouro Nacional, relaxou na política fiscal e não cuidou da política cambial para manter o equilíbrio da balança comercial, começou-se a desenhar o desastre econômico e social, que evoluiu por anos e, agora, explodiu. A deterioração da situação econômica da Grécia não aconteceu de repente; foi obra de um longo processo. Ao não conseguir pagar seus compromissos internacionais e não ter mais dinheiro para honrar benefícios sociais internos, a Grécia teve de se ajoelhar perante o mundo, tomar medidas duras, impor sacrifícios à população e tentar fazer com muito mais dor aquilo que deveria ter feito nos últimos 20 anos.

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Os cortes em benefícios sociais, a redução de aposentadorias, a diminuição de gastos públicos e a elevação de impostos acabaram gerando descontentamento entre a população e levou o povo às ruas em atos de explosão e perturbação da ordem pública. A lição que vem da tragédia grega é simples: não se pode descuidar das contas públicas, abandonar a austeridade monetária e relaxar na política cambial. Se agir assim, mais cedo ou mais tarde o país entrará em crise e a população pagará um preço alto. Os bancos privados e o Fundo Monetário Internacional (FMI) ficaram assustados com o tamanho do buraco cavado pelo governo grego e se dispõem a emprestar dinheiro para aquele país desde que seja seguido um doloroso programa de austeridade e recuperação econômica.

A Grécia é um país que, mesmo tendo sido um dos berços da civilização ocidental, não conseguiu atingir alto desenvolvimento econômico e social, o que chega a parecer estranho, pois nações com história muito mais modesta e sem grandes riquezas naturais conseguiram desenvolver-se e oferecer alto padrão de vida à sua população. Além de não crescer, a Grécia conseguiu piorar as coisas, ao ter uma série de governos incompetentes e irresponsáveis na condução da política econômica, cujo resultado é a grave crise de agora. Trata-se de mais um exemplo entre vários (a Argentina é um deles) de que a sucessão de maus governos e políticas populistas levam a nação ao desastre econômico e social.

No curto prazo, o Brasil poderá reduzir exportações para a Europa, que é a região mais diretamente afetada pela crise da Grécia, e poderá ter alguma redução na entrada de capitais financeiros internacionais. Em termos de longo prazo, a lição da tragédia grega é importante, e o Brasil deve prestar atenção nos equívocos cometidos por aquele país, para não permitir que, por aqui, a situação também desande. Nos primeiros meses de 2010, as contas públicas brasileiras pioraram muito, e há sinais de que podem piorar ainda mais, em particular, as últimas medidas votadas no Congresso Nacional em relação à Previdência Social. O reajuste das aposentadorias e o fim do fator previdenciário, se sancionados pelo presidente da República, aumentarão em muito as despesas do governo, agravando o déficit público final.

Ano de eleição é sempre perigoso para as contas públicas, pois, em geral, os políticos no poder são propensos a relaxar e a gastar mais do que podem, sobretudo porque o ônus de medidas duras e impopulares fica para o governante seguinte.