A tragédia chegou às ocupações de escolas no Paraná: na segunda-feira, um adolescente de 16 anos foi morto por um colega no Colégio Estadual Santa Felicidade, no bairro homônimo de Curitiba. Segundo as informações divulgadas pela polícia, ambos teriam consumido drogas e, após um desentendimento, a vítima tentou agredir o outro adolescente, que revidou usando uma faca de cozinha.
É fácil eximir-se dizendo que o episódio poderia ter ocorrido em qualquer lugar, por não ter relação nenhuma com as ocupações propriamente ditas. Mas isso é jogar para debaixo do tapete o fato de que em pelo menos uma escola ocupada havia drogas e armas brancas, desmentindo o discurso de que as instituições cujo funcionamento foi interrompido viviam uma espécie de idílio estudantil, impressão reforçada até mesmo por órgãos como o Conselho Tutelar, que disse não ter encontrado irregularidade alguma nas várias escolas visitadas – inclusive o Colégio Estadual Santa Felicidade.
Tenta-se, agora, alijar do debate os principais responsáveis pelo bem-estar dos adolescentes: os seus pais
Nada mais natural que a morte tenha elevado a preocupação do restante da comunidade escolar, especialmente os pais de estudantes, participantes ou não das ocupações. Em alguns casos, esses pais têm se mobilizado para tentar entrar nas escolas e convencer os alunos a encerrar o movimento – foi o caso do Colégio Estadual Guido Arzua, no Sítio Cercado, em Curitiba, ainda antes do crime em Santa Felicidade. Em São Mateus do Sul, alunos de uma escola estadual impediram militantes do Ocupa Paraná que pretendiam invadir o estabelecimento de ensino mesmo depois de uma assembleia ter decidido, com registro em ata, que não haveria ocupação.
E a resposta a essa maioria que estava silenciosa até há pouco tempo é a tentativa de alijar do debate os principais responsáveis pelo bem-estar desses jovens e adolescentes. É preocupante ver conselheiros tutelares em Londrina impedindo pais e mães de entrar em uma escola. E é estarrecedor perceber que um movimento de advogados passou a distribuir, pelas mídias sociais, modelos de notificações que deveriam ser enviadas não apenas aos pais, mas também a professores e outros estudantes contrários às ocupações, alertando-os de que responderiam por qualquer lesão física a algum adolescente e deveriam “se abster imediatamente de qualquer ato direcionado à escola, seja no portão ou arredores”, sob pena de serem responsabilizados cível e criminalmente.
Não há dúvidas de que a violência precisa ser repudiada com veemência, venha dos favoráveis às ocupações ou de quem discorda delas. Mas, ao criminalizar de antemão qualquer um que se oponha à mobilização, ou que esteja genuinamente preocupado com seus filhos que estejam dentro de uma escola ocupada, conselheiros e os autodenominados “advogadas e advogados pela democracia” trabalham para defender não o bem-estar dos jovens e adolescentes, mas a manutenção de um movimento que desafia a democracia e se torna cada vez mais ideológico e partidarizado – basta ver que, apesar de o governo estadual ter levado as reivindicações dos estudantes a Brasília, como solicitado, as escolas seguem ocupadas, e a página do Ocupa Paraná no Facebook ostenta os dizeres #ForaTemer, #ForaMendonça (em referência ao ministro da Educação) e #ForaRicha, mostrando de forma inequívoca que a pauta é política, e não educacional.
E, se para manter a mobilização funcionando é preciso manter distantes os próprios pais dos estudantes, estamos assistindo a um ensaio do assustador “Admirável Mundo Novo” em que a autoridade paterna dá lugar à noção de crianças e jovens como propriedade da “sociedade” – ou do Estado, ou da ideologia.
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