Se Guido Mantega não for percebido como alguém que conhece sua área, suas palavras não serão tomadas como informação útil para orientar as decisões empresariais

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Há uma crença geral de que quem manda de fato na política econômica e dá as ordens é a presidente Dilma Rousseff e não o ministro da Fazenda, Guido Mantega. Além da personalidade forte e autoritária, a presidente tem instrução formal em Economia e sua vocação maior é para a gestão cotidiana do governo, e não para os tratos políticos. Até aí, nada de errado com o fato de a presidente concentrar as grandes decisões estratégicas do governo, sobretudo as de ordem econômica, em suas mãos – pois, afinal de contas, ela foi eleita e é a responsável maior pelos resultados.

Porém, sendo o governo muito grande e as tarefas, variadas e complexas, é desejável que cada ministro tenha mais conhecimento de sua área que o presidente da República, além de ser o formulador das soluções e atuar como um assessor do primeiro mandatário nas escolhas feitas pelo governo. Na área da economia, não é isso que acontece. O ministro da Fazenda parece mais um mensageiro de análises, dados e informações produzidos por sua assessoria a fim de que a presidente examine e decida, cabendo a ele o papel de divulgar, defender e implementar, mas jamais decidir.

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O ministro da Fazenda dirige a mais importante área da administração pública pela importância que a economia tem para o sucesso ou fracasso do governo, razão por que o ocupante desse cargo deve ser um especialista nos assuntos pertinentes e deve ter credibilidade nacional e internacional. Não pode ser um executivo qualquer, um tarefereiro sem ideias e de poucas luzes intelectuais. É óbvio que o ministro deve ser disciplinado e seguir as diretrizes do presidente, mas ele deve ser, também, portador de ideias, conceitos e propostas capazes de iluminar as decisões do governo e, inclusive, alertar para os erros e as medidas prejudiciais à economia.

É notório que o ministro Mantega é esforçado, tem passado ileso em relação a denúncias de corrupção – apesar de alguns escorregões, como foi o caso de uma indicação sua para a presidência da Casa da Moeda (o indicado se envolveu em supostas fraudes) –, é uma figura simpática e transita bem no governo. Porém, além de não apresentar ideias e não deixar clara qual sua linha de pensamento, o ministro vive se contradizendo e criando dúvidas em relação à política econômica, deixando os agentes de mercado sem saber qual, afinal, será o caminho do governo.

Um exemplo do mau papel que o ministro vem desempenhando está em suas declarações sobre a política cambial. Ora ele diz que o governo trabalhará para elevar o preço do dólar, a fim de evitar a desindustrialização e a perda de competitividade dos exportadores; ora dá indicações em sentido contrário, a ponto de analistas internacionais terem manifestado dúvidas sobre suas declarações ambíguas. Outra área em que o ministro vem desmoralizando suas próprias palavras é a das previsões econômicas. O caso mais vexatório foi a insistência com que ele declarou por diversas vezes que o Produto Interno Bruto (PIB) cresceria 4% em 2012, quando empresários e analistas sabiam que esse número não passaria de 2%. O resultado foi pior e ficou em apenas 1%.

Ainda outro exemplo são as explicações estapafúrdias para as manipulações contábeis das contas feitas para fechar 2012. Com a enorme reação negativa interna e externa, era de esperar que o ministro recuasse e orientasse a presidente Dilma para não mais repetir manipulações similares. Estranhamente, o ministro continuou defendendo as manobras e voltou a repeti-las, avisando que excluirá as desonerações tributárias do cálculo do superávit primário.

Se continuar nessa linha, o ministro da Fazenda terá de amargar a corrosão de sua credibilidade como interlocutor dos setores produtivos e dos investidores. Ele tem a simpatia de seus interlocutores, é uma pessoa tratável e disposta a dialogar. Infelizmente, esse aspecto formal do relacionamento de uma autoridade com os representantes da economia não basta para que as coisas andem bem. Se o dirigente não for percebido como alguém que conhece sua área e com prestígio perante o chefe maior da nação, suas palavras não serão tomadas como informação útil para orientar as decisões empresariais. Perde o ministro e perde o país.

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