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Editorial

O Senado dos EUA absolve Trump

O presidente dos EUA, Donald Trump, exibe uma cópia do Washington Post com a manchete "Trump absolvido", em discurso na Casa Branca, 6 de fevereiro de 2020. (Foto: Drew Angerer/Getty Images/AFP)

Para a surpresa de ninguém, o Senado norte-americano absolveu, na quarta-feira, o presidente Donald Trump das duas acusações que poderiam lhe render a cassação do mandato. Com isso, fica encerrada a novela do impeachment, iniciada em setembro do ano passado, quando o Congresso começou investigações sobre um episódio envolvendo Trump e o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky. Em uma conversa telefônica com o ucraniano, Trump teria pedido que as autoridades daquele país investigassem Joe Biden, ex-vice-presidente na administração Obama e pré-candidato democrata na eleição presidencial deste ano. A moeda de troca seria uma ajuda militar de quase US$ 400 milhões.

Nos dois “artigos de impeachment” redigidos contra Trump e aprovados pela Câmara em dezembro – um, por abuso de poder; outro, por obstrução das investigações –, os democratas estiveram muito longe de conseguir os 67 votos necessários para a cassação em um Senado onde os republicanos têm a maioria, com 53 parlamentares de um total de 100. Assim como havia ocorrido entre os deputados, o resultado final seguiu quase à risca as filiações partidárias, com democratas votando contra Trump e republicanos votando a seu favor. A única exceção foi o republicano Mitt Romney, candidato derrotado por Obama em 2012, e que votou pela cassação em um dos artigos, aquele referente a abusos de poder. Romney, o primeiro senador na história do país a votar contra um presidente de seu próprio partido em um processo de impeachment, foi imediatamente criticado por Trump e vários outros republicanos, apesar de seu histórico de votos favoráveis às plataformas do presidente.

Com o fim do processo de impeachment, os democratas podem se dedicar às primárias que escolherão o adversário de Trump em novembro

É de se perguntar até que ponto os próprios democratas estariam sentido algum alívio com o fim do processo de impeachment. Afinal, o desfecho era previsível desde o início, dada a maioria republicana no Senado, e não faltou quem classificasse todo o processo como uma ação de “maus perdedores” dispostos a derrubar Trump ou, ao menos, desgastá-lo. No entanto, a popularidade do presidente subiu ao longo dos últimos meses. A mais recente pesquisa do instituto Gallup mostra aprovação de 49%, incluindo um recorde de 94% entre republicanos, além de 42% entre independentes. E quase dois terços dos americanos aprovam a maneira como Trump vem conduzindo a economia, um trunfo do presidente. O impeachment elevou até mesmo a arrecadação para a campanha de reeleição de Trump. Por esse ângulo, esticar o processo poderia ser um risco para os democratas, considerando que o país está a apenas nove meses do pleito.

Além disso, agora os democratas podem dedicar todas as suas energias na escolha do adversário de Trump, e têm um enorme dilema para resolver: seu candidato tem de ser alguém mais alinhado às plataformas democratas, que vêm se inclinando cada vez mais para a esquerda, ou alguém eleitoralmente viável, capaz de conquistar o centro, mesmo que se afaste um pouco do ideário do partido? A mesma pesquisa Gallup afirma que 56% dos democratas priorizam as chances de vitória, contra 42% que enfatizam a fidelidade ideológica. No entanto, essa margem já foi maior, mostrando que os extremistas estão ganhando força. A tendência crescente da preferência pela afinidade em vez da viabilidade beneficia o senador Bernie Sanders, que se define como socialista: 28% dos democratas consideram que ele é o mais próximo ao ideário dos entrevistados. Mas, quando perguntados sobre quem tem mais chance de vencer Trump, Sanders tem apenas 19% contra 44% de Joe Biden.

O dilema entre moderação e extremismo apareceu de forma surpreendente em Iowa, o primeiro estado a realizar primárias democratas. Com a apuração quase encerrada, Sanders disputa a liderança com Pete Buttigieg, deixando Biden apenas em quarto lugar. O jovem ex-prefeito de South Bend, no estado de Indiana, é visto como moderado na economia, mas em questões de costumes, como o aborto, adota a mesma postura mais à esquerda de seu partido. Ainda é cedo para saber se Buttigieg terá fôlego para permanecer até o fim na longa corrida pela indicação democrata, mas o desempenho do azarão em Iowa acrescenta uma boa dose de imprevisibilidade à disputa.

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