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Editorial

Turbulências econômicas à vista

O presidente e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. (Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil.)

O cenário econômico mundial nunca será um mar de águas calmas – a turbulência econômica é um fenômeno comum e que precisa ser manejado pelos países. Mas para isso é preciso eficiência e controle das despesas públicas, coisa que os maus governos dificilmente estão dispostos a fazer. Na América Latina, com poucas exceções, temos hoje governos ineficientes na gestão macroeconômica, populistas e irresponsáveis no manejo dos orçamentos públicos, cuja marca é a imprudência financeira, gastos públicos descontrolados, dívidas públicas em ascensão. O Brasil é um exemplo disso – e precisa corrigir seus rumos antes que seja tarde.

A partir dos anos 1970, o mundo percorreu longo período com crises econômicas recorrentes, cujo início foi a primeira explosão dos preços do petróleo em 1973 e continuou com a segunda explosão desses mesmos preços, a crise da dívida externa dos países subdesenvolvidos, o recrudescimento da inflação em várias partes do mundo, a grande recessão do Japão, a recessão em países da América Latina e outras turbulências que tiveram o efeito de freio no crescimento, aumento do desemprego e da pobreza. Quem viveu no Brasil dos anos 1980 conheceu de perto esse cenário nebuloso.

Países com maus governos agravam os problemas iniciados com as turbulências geradas fora de suas fronteiras e contribuem para uma crise maior.

Nos anos 1990, o mundo iniciou um período de expansão que durou pelo menos até 2007, com algumas exceções, que foi um período de prosperidade marcada por crescimento do produto bruto, queda da inflação, baixas taxas de juros, elevação do consumo, baixas taxas de desemprego e ascensão de grande número de famílias para faixas de renda mais alta. Entre suas marcas, esse período de expansão viu o deslocamento de parcelas do produto mundial desde os países desenvolvidos para os países em desenvolvimento, em função do movimento de desregulamentação internacional, maior inserção dos países no comércio exterior e expansão do que se denominou “globalização econômica”. Esse efeito propiciou o aumento da poupança global medida em dólares, resultando na queda da taxa de juros e da inflação.

A trajetória de crescimento e bons indicadores econômicos começou a sofrer os efeitos do violento choque causado pela explosão da crise imobiliária nos Estados Unidos, no ano de 2007, cuja gravidade se acentuou em 2008, prosseguiu nos anos seguintes e espalhou seus efeitos pela Europa, Japão e países produtores de petróleo, especialmente os que detinham elevadas somas de investimentos em dólar. Em tempo relativamente curto, o mundo viu um país atrás do outro mergulhar em grave crise, a exemplo de Irlanda, Espanha, Grécia, Portugal e Japão, além de outros. Com maior ou menor intensidade, os efeitos da crise pegaram todos os países do mundo.

Na América Latina, com poucas exceções, temos hoje governos ineficientes na gestão macroeconômica, populistas e irresponsáveis.

Alguns países em desenvolvimento, entre eles Brasil, Rússia, Índia e China, componentes dos BRICs, pareciam estar fora dos males derivados da crise financeira e davam a impressão de que iam continuar seu ritmo de consumo, portanto imunes a eventual recessão grave. O consumo de alimentos, principalmente na China, seguia bastante alto e dava sustentação à elevação dos preços das commodities agrícolas, o que favoreceu o comércio exterior dos países produtores, entre eles o Brasil. Apesar de boas ondas aqui e ali, a crise foi profunda nos Estados Unidos e na Europa, e somente não resultou em recessão bem mais pesada porque os governos emitiram grandes quantidades de moeda e injetaram US$ 9 trilhões, para um PIB mundial na faixa dos US$ 80 trilhões. Esse é o tipo de solução que ameniza a tragédia no curto prazo e transfere uma pilha de problemas e danos para o longo prazo, em razão dos gigantescos déficits públicos e o retorno da inflação alta. Foi o que acabou acontecendo.

O Fundo Monetário Internacional fez vários alertas sobre as consequências dessa politica equivocada, entre elas a inflação e o desemprego. Na época, o governo Obama captou os sinais que prenunciavam graves problemas mais adiante e anunciou que seria necessário tomar medidas impopulares. As turbulências anunciadas como decorrência da crise e das medidas tomadas para impedir uma catástrofe de altas proporções foram agravadas quando, no início de 2020, o mundo foi castigado pela grave e imprevisível pandemia do coronavírus, que jogou a população mundial trancada por dois anos em suas residências com toda sorte de desorganização do sistema econômico, recessão, alto desemprego, falências e desespero financeiro e psicológico.

Quando, no início de 2022, o mundo começava a sair do isolamento social e da recessão produtiva, a Rússia invade a Ucrânia em 24 de fevereiro, e lança outra bomba econômica, social e política sobre o mundo todo. Nessa linha do tempo, com a guerra entre Rússia e Ucrânia seguindo sua tragédia humanitária e causando graves problemas sobre praticamente todos os países, os aumentos de preços de matérias-primas, especialmente energias e combustíveis, levam a economia mundial, já enfraquecida em vários flancos, a seguir amargando problemas, retardando a recuperação, atrasando o crescimento e freando a redução da pobreza.

Nesse cenário global, países com maus governos agravam os problemas iniciados com as turbulências geradas fora de suas fronteiras e contribuem para uma crise maior. Infelizmente, o Brasil está dentro desse rol: se insistir em manter-se como um Estado gastador, inchado e pouco eficiente, como tem sido até agora, sofrerá cada vez mais com as turbulências e crises que acontecem lá fora.

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