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A possibilidade de redes sociais, como o Twitter, revolucionarem o modo de fazer política ainda está muito distante. Embora já se afirme com certa euforia que o Twitter assumiu um papel de destaque nas eleições deste ano, o seu potencial de mudança na relação entre políticos e eleitores encontra-se bastante limitado. Dificilmente políticos se mostram interessados em debater questões de interesse público, principalmente quando o assunto é considerado inconveniente, entre eles aqueles relacionados a denúncias de corrupção, falta de transparência e fiscalização pública. Na tentativa de imitar o exemplo de Barack Obama – o primeiro político a ser bem-sucedido no uso de mídias sociais – os candidatos brasileiros apresentam-se ainda com um uso muito limitado da ferramenta.

A comunicação via Twitter – o microblog que permite os usuários cadastrados a publicar mensagens de no máximo 140 carateres – abriu a possibilidade de uma relação num mesmo nível entre políticos e cidadãos comuns. Em princípio, a ferramenta permite que troquem informações em pé de igualdade. Políticos podem ser cobrados de promessas. Podem ser censurados por causa de suas atitudes. Podem ser questionados sobre os seus planos de governo.

No entanto, as novas possibilidades proporcionadas pelas novas mídias são pouco exploradas. E pior, a atuação dos políticos no mundo digital, com raras exceções, não está pautada pelo interesse em dialogar. Muitos deles, quando questionados sobre temas que não lhes agradam, dificilmente respondem. Alguns apelam para a grosseria. Outros apenas estão interessados na própria autopromoção, ou, mesmo, em divulgar suas ações de campanha. Em certas circunstâncias, os políticos transportam os bate-bocas do Planalto Central, ou do Centro Cívico, para a rede. Afora esses comportamentos, o principal uso eleitoral do Twitter feito por políticos é de ferramenta útil de marketing, voltado principalmente para mobilizar militantes e fidelizar eleitores.

Mas nada disso contribui para um novo modo de fazer política.

A política tradicional entrou na era digital, mas resiste em mudar seu padrão de comportamento. Força uma relação hierarquizada entre políticos e eleitores, totalmente diferente do que o meio proporciona. As redes sociais são essencialmente ferramentas de colaboração, pelas quais projetos nascem a partir da discussão. São essencialmente democráticas. O pensamento do pesquisador norte-americano de mídias digitais, Clay Shirky, "quando nós mudamos o modo de nos comunicar, mudamos a sociedade", ainda não é válido para a relação entre políticos e eleitores no uso que fazem das redes sociais.

A expectativa de grande parte dos pesquisadores de redes sociais é que as novas mídias transformem o modo de se fazer e de se vivenciar o processo político. Eles consideram que a internet pode criar um verdadeiro banco de ideias, caracterizado por uma cultura de deliberação pública e de cidadania diferente do que vemos hoje. Mais colaborativo e atuante. Porém, atualmente, as ideias dos eleitos são impostas aos eleitores. Há pouco compartilhamento de informações e de construção de projetos em conjunto com a sociedade.

Talvez seja demais esperar que os políticos tradicionais mudem seu comportamento já cristalizado, para que passem a dialogar com os eleitores em igualdade. Mas não é demais esperar que a geração nativa da internet venha a fazer um uso diferente da ferramenta em assuntos políticos. Acostumada a discutir em rede, é de se estranhar que isso não esteja acontecendo. Não importa que os candidatos se esquivem das respostas. Não importa que sejam grosseiros. O importante é vigiá-los de perto. É instigá-los ao debate. Pois, se entraram num meio no qual podem ser considerados "estrangeiros", o mínimo que podem esperar é que serão tratados de acordo com as regras do novo meio. E esse meio é democrático, pautado na liberdade e na igualdade. Não obedece a hierarquias. É, por excelência, aberto ao debate público. Gostem os políticos disso ou não.

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