Hoje se completa um ano do acidente de aviação registrado no norte de Mato Grosso que vitimou os passageiros de um aparelho da Gol Linhas Aéreas, seguido por outro, há pouco mais de três meses, com um avião da TAM, num aeroporto de São Paulo. Juntos, os dois acidentes tiveram uma escala nunca vista no país, ceifando a vida de mais de 300 brasileiros. Ao tornarem agudo o caos latente no sistema aviatório, tais ocorrências despertaram profunda comoção na opinião pública e acarretaram a demissão do ministro responsável pelo setor, gerando as primeiras medidas corretivas após meses de perplexidade.
Um ano após o acidente da Gol o balanço do setor aéreo ainda não reúne elementos positivos, apesar dos esforços do novo ministro da Defesa, Nelson Jobim. O saneamento envolveu a substituição dos dirigentes de órgãos e agências reguladoras da área, redimensionamento dos aeroportos em função do tamanho e qualidade de suas pistas de operação, sua adequação à demanda de passageiros e medidas correlatas. Não obstante, o quadro acusa escassez de investimentos na infra-estrutura da aviação comercial e defasagem na gestão após a transição do controle da área militar para uma organização civil, porém ainda vinculada ao Ministério da Defesa.
Ao lado das perdas humanas, o uso precário da aviação inibe o desenvolvimento econômico num país de dimensão continental como o Brasil, indicando necessidade de reformulação que atualize os parâmetros do setor. É que, seguindo tendência mundial, a crescente utilização do avião para transporte de pessoas ou cargas não foi acompanhada de atenção compatível por parte do governo. Falta pessoal especializado para o controle técnico das operações e qualidade de gestão nas empresas concessionárias, como mostraram as quebras sucessivas de companhias tradicionais Vasp, Transbrasil, Varig, etc.
No Paraná mesmo as deficiências são expressivas: por defasagem de equipamentos e controladores, muitas vezes aeronaves são mantidas em sobrevôo dos aeroportos, num processo conhecido como orbitagem que causa preocupações aos técnicos e agentes da área de aviação por colocarem os passageiros e demais usuários sob acentuado risco. Ainda, os aeroportos estão sucateados ou não operam com equipamentos adequados como se registrou em Maringá e as verbas previstas para investimento são escassas. Para exemplo, a ampliação do nosso aeroporto metropolitano, o Afonso Pena em São José dos Pinhais, tem reservada uma verba de R$ 80 milhões no orçamento para 2008, quando a exigência de engenharia para uma pista de porte internacional, ao lado do pátio de aeronaves, terminal de carga, etc., sobe a mais de meio bilhão de reais.
As deficiências de infra-estrutura não se limitam ao setor aéreo; elas se evidenciam nas rodovias precárias, portos acanhados e ferrovias insuficientes para o nosso território, mas na aviação o trauma causado pelos acidentes acima registrados torna mais viva a urgência de melhorias que se traduzam em resultados efetivos.
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