Todo novo governante, quando assume a chefia do Poder Executivo, em que esfera for, tem diante de si dois caminhos: agir como um verdadeiro estadista, propondo uma meta ambiciosa – mas sem ceder ao populismo – e se cercar das melhores pessoas para executá-la, fazendo aquilo que precisa ser feito, ainda que se trate de medidas impopulares; ou realizar a política rasteira como tem sido praticada nos últimos anos, baseada no toma-lá-dá-cá e no fisiologismo. Passado um mês da posse de Michel Temer como presidente interino, durante o afastamento de Dilma Rousseff, ele tem demonstrado uma perigosa ambiguidade.
Na montagem da equipe econômica e no comando de algumas estatais, Temer demonstrou a grandeza que a situação exige, convocando grandes nomes como Henrique Meirelles para o Ministério da Fazenda, Ilan Goldfajn para o Banco Central, Maria Sílvia Bastos Marques para o BNDES e Pedro Parente para a Petrobras, comprometendo-se em dar a esse grupo autonomia para desmontar a “nova matriz econômica” lulopetista que afundou o país na inflação, na recessão e no desemprego. Mas flertou com a irresponsabilidade ao apoiar, inicialmente, o aumento dos ministros do Supremo Tribunal Federal, que causaria um efeito cascata bilionário, e a criação de 14 mil novos cargos na máquina administrativa – medidas das quais só recuou após intensa pressão. E cedeu no caso do reajuste ao funcionalismo, aprovado na Câmara e cujo impacto está estimado em R$ 53 bilhões até 2018.
Temer demonstra enorme fraqueza ao fazer tantas concessões a quem nem sequer reconhece seu governo como legítimo
“Ceder”, aliás, é um verbo que Temer tem conjugado com preocupante frequência. Como quando se deixou levar pela minoria barulhenta que pedia a volta do Ministério da Cultura, unido ao da Educação na reforma ministerial anunciada logo após a posse. Ou quando cedeu aos baderneiros do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) que se levantaram contra a suspensão de contratações do Minha Casa Minha Vida – Entidades, ramo do programa habitacional desenhado para atender aos caprichos de “movimentos sociais” alinhados com o PT. E está prestes a ceder a José Rainha Junior, do Movimento dos Sem-Terra (MST), que pede não só a volta do Ministério do Desenvolvimento Agrário como também quer fazer indicações para a Secretaria de Agricultura Familiar. Temer demonstra enorme fraqueza ao fazer tantas concessões a quem nem sequer reconhece seu governo como legítimo.
Por fim, se nas nomeações da equipe econômica Temer se portou como estadista, ao compor o restante do ministério deu mostras de que não rompeu com a velha política. Nomeou investigados pela Lava Jato, alguns dos quais, como Romero Jucá, acabaram apeados do governo rapidamente, quando gravações tornaram insustentável sua permanência no cargo. Pode-se até argumentar que há avanço na comparação com Dilma Rousseff, que não mexeu um dedo contra os seus ministros investigados (com a breve exceção da “faxina” feita em 2011); mesmo assim, Temer podia ter evitado essa situação se tivesse escolhido melhor seu gabinete, que acolheu não apenas gente de lisura questionável, mas também nomes cujo único mérito é garantir o apoio deste ou daquele partido.
Haverá quem diga que não existe outra forma de governar, que Temer é um interino que precisa ser pragmático para garantir no Senado os votos necessários à cassação definitiva de Dilma. Mas pensar assim é erguer a bandeira de rendição antes mesmo da batalha. Um verdadeiro líder, que tenha um bom projeto e saiba defendê-lo, consegue tirar o melhor inclusive de colaboradores de histórico desabonador, sem precisar se afundar em barganhas e concessões. Temer pode ser esse líder, mas teve um começo frustrante. A questão que se coloca é: o presidente já está totalmente comprometido com um modo nefasto de fazer política, ou ainda há tempo para uma correção de rumos?
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