A Universidade de São Paulo (USP) leva o nome do estado que a sustenta, mas tem um quê de Petrobras, um patrimônio nacional. O estado de saúde da instituição é como um termômetro – se a USP vai bem, estamos todos bem. Se a USP vai mal, estamos todos mal. E a USP não anda passando muito bem, como se sabe. Greves no crescente arrastam cada vez mais fileiras do funcionalismo. Problemas administrativos e gastos para mais da conta vampirizam a pesquisa, tirando a vitalidade da escola. A USP tem nos deixado preocupados, pois seu inferno astral, seguido de palpitação, ultrapassa o limite regulamentar. E nesta semana recebemos a notícia de que a universidade mais importante dessas plagas perdeu na "corrida" para a Universidade Católica do Chile. A USP não melhorou, bem entendido. Estancou. A chilena, avançou.

CARREGANDO :)

A PUC dos nossos vizinhos é agora a melhor da América Latina, de acordo com levantamento da consultoria britânica QS – Quacquarelli Symonds University, uma das que fazem listagens mundo afora, nos mais diversos recortes. Ponha-se na conta que ano passado a USP desceu pelo menos 60 degraus em outra pesquisa de desempenho e reputação – a assinada pela revista britânica Times Higher Education (THE). O ranking foi feito a partir de entrevistas com 10.536 professores, pesquisadores, cientistas e intelectuais de 133 países. Nas cabeças habitam a Universidade Harvard; o Instituto de Tecnologia de Massachussetts (MIT); Stanford; Cambridge; Oxford; Berkeley; Princeton; Yale, cujos méritos não se discutem.

Com perdão aos puristas, antes de julgar é preciso relativizar. Esses rankings, como se sabe, não devem ser levados a ferro e a fogo. Não são as Tábuas da Lei. Alguns, inclusive, resvalam na subjetividade das entrevistas com professores e quetais, arbitrando um sem-número de pontos de vista do que seja ou não uma boa universidade. O grau de cientificismo é pequeno. Há – reconheça-se – uma mercantilização das universidades e esse movimento já se reflete nos rankings. A aplicação de receitas para se tornar "internacional" segue uma lista bem fornida de ingredientes, e nenhum deles é garantia de que uma universidade seja melhor do que a outra. Ponha-se também na conta que os espartilhos cada vez mais apertados do CNPq – nascidos para tirar as universidades brasileiras da letargia – também abrem brechas para a perfumaria, para os truques, para os maneirismos, posto que reduzem em demasia a prática acadêmica à produção de artigos em revistas, passando o rodo em outros expedientes universitários, tão importantes quanto.

Publicidade

Nenhuma dessas críticas, contudo, invalidam de todo o que os rankings podem indicar. Eles de fato refletem a instabilidade da USP, os avanços da Unicamp e da Unesp, a proeminência de universidades federais como a do Rio Grande do Sul e a do Rio de Janeiro, para citar as que costumam dar as caras nas mais diversas aferições. Temos seis universidades entre as melhores do continente. Ainda que no geral ocupemos a senzala dos índices, pode-se afirmar com folga que o grau em que ficaram as melhores foi alcançado a duras penas.

Como se diz na gíria juvenil, "não está fácil para ninguém": as universidades crescem no Brasil apesar do ensino médio capenga, que despeja nos laboratórios a sombra do fracasso. O Inaf identificou mais de 30% de alfabetos funcionais cursando o terceiro grau, um "dado aperitivo" para confirmar nossa mania de pular etapas, a gosto do freguês. Tirar diploma virou um produto de consumo, assim como comprar carro zero, fazer plástica e partir para um cruzeiro. A saúde da pesquisa acadêmica propriamente dita acaba sendo um detalhe do todo, uma promessa de oxigênio em meio à falência múltipla dos órgãos. Em resumo, o resultado poderia ser pior.

A universidade pública brasileira se politizou, no pior sentido da palavra. A quebra de pactos internos chega a tornar sua administração uma "missão impossível", já que as vontades se setores de interesse se impõem sobre o bem maior da educação. O elefante branco existe. Não tem como a pesquisa ficar livre de abalos em meio a tantos atentados. O topo latino-americano alcançado por uma universidade particular serve de sinal, duplamente: atacadas no passado de mercenárias, são essas casas, aqui e ali, que fazem jus ao que se espera de uma instituição do ramo.

Dê sua opinião

Você concorda com o editorial? Deixe seu comentário abaixo e participe do debate.

Publicidade