O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, resolveu compensar, no apagar das luzes de seu mandato, a lentidão do órgão quando o assunto é Operação Lava Jato. Depois de anos levantando material e apresentando poucas denúncias, a PGR saiu da letargia e, em apenas alguns dias, enviou ao Supremo Tribunal Federal um lote formidável de denúncias que envolvem ex-presidentes da República e figuras que dominaram o Poder Legislativo nacional por anos, e até décadas.
A investigação do petrolão na PGR havia sido dividida em quatro ramos: PP, pelo PT e pelo PMDB na Câmara e no Senado. Em 1.º de setembro, Janot ofereceu denúncia contra o “quadrilhão do PP”, formado por cerca de 30 pessoas, incluindo o ex-ministro Aguinaldo Ribeiro e o presidente da legenda, Ciro Nogueira. Mas o que realmente abalou as estruturas do poder em Brasília foi a denúncia oferecida na última terça-feira, contra o “quadrilhão do PT”, integrado pelos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, os ex-ministros Gleisi Hoffmann (atual presidente do partido), Paulo Bernardo, Guido Mantega, Antonio Palocci e Edinho Silva, e o ex-tesoureiro João Vaccari Neto. Segundo a PGR, os petistas teriam se apropriado de quase R$ 1,5 bilhão em propinas oriundas de contratos com a Petrobras. No dia seguinte, quarta-feira, Janot ofereceu nova denúncia contra Lula e Dilma por obstrução de justiça, referindo-se à nomeação de Lula como ministro-chefe da Casa Civil para que ele tivesse foro privilegiado e escapasse da força-tarefa de Curitiba e do juiz Sergio Moro.
O procurador-geral se viu ludibriado em rede nacional
Nesta sexta-feira, foi a vez do “quadrilhão do PMDB no Senado”: Edison Lobão (que, além de senador, foi ministro das Minas e Energia de Lula e Dilma), Jader Barbalho, Renan Calheiros, José Sarney, Romero Jucá e Valdir Raupp, além de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro. A propina recebida por eles chegaria a R$ 864 bilhões, e o esquema no qual eles participaram teria dado prejuízo de R$ 5,5 bilhões à Petrobras e R$ 113 milhões à Transpetro.
Antes tarde do que nunca, alguém dirá. De fato, a demora da PGR em oferecer essas denúncias já tinha se tornado inexplicável. E o mesmo pode ser dito também do pedido de prisão dos executivos da J&F (controladora do frigorífico JBS) Joesley Batista e Ricardo Saud, após a divulgação do escandaloso áudio que deixa claro o engodo armado pelos empresários para conseguir escapar impunes de seus crimes. Janot também pediu a prisão de seu ex-colaborador Marcelo Miller, que teria aconselhado Joesley e Saud antes de deixar o Ministério Público e passar a advogar no escritório que negociou o acordo de leniência da JBS.
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E, ainda que as denúncias oferecidas agora sejam irretocáveis do ponto de vista jurídico – o que ainda será definido pelo STF; a decisão de remeter à primeira instância a denúncia contra Lula e Dilma não é uma análise do seu conteúdo, mas se deve ao fato de nenhum dos denunciados ter foro privilegiado no momento –, Janot não deixará o comando da PGR livre das suspeitas de que só agiu agora sob o impacto do providencial áudio de Joesley e Saud. O procurador-geral, que recentemente defendeu a sua decisão de aceitar a delação premiada em troca da impunidade total para Joesley, se viu ludibriado em rede nacional, e essa seria a última impressão deixada por ele caso não houvesse uma “agenda positiva”, surgida agora com as denúncias. Só resta ao país esperar que, mesmo que a motivação seja puramente a de resgatar o seu prestígio pessoal, Janot tenha enviado ao Supremo peças com a solidez necessária para que os envolvidos no petrolão tenham a devida punição.
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