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Editorial

Um lugar para o empreendedor chamar de seu

O homem é produto do meio – o axioma é atribuído ao enciclopedista francês do século 18 Jean-Jacques Rousseau. Apesar de consagrada como correta por muitos antropólogos, a afirmação contém alto grau de relatividade, mas pode ser considerada como uma grande verdade quando transposta à atividade econômica: o desenvolvimento social e econômico é produto indissociável do ambiente para negócios. Assim, quanto melhor e mais aberto for o ambiente, maior a chance de promoção do empreendedorismo e, consequentemente, melhores e mais sustentáveis serão seus efeitos. Assim, é natural que o empreendedor que quiser assegurar a prosperidade de seu negócio seja sempre levado a escolher o ambiente que lhe pareça mais propício.

Um levantamento da Endeavor Brasil mediu as cidades brasileiras que reúnem os melhores atributos para o desenvolvimento de novos negócios, conforme reportagem publicada pela Gazeta na segunda-feira. Seu ranking, que estabeleceu o Índice das Cidades Empreendedoras 2014, colocou Curitiba na quarta posição entre 14 metrópoles pesquisadas, abaixo apenas, pela ordem, de Florianópolis, São Paulo e Vitória. Trata-se de um resultado que já pode ser considerado excelente, mas o exame mais profundo dos quesitos que serviram para a mensuração das qualidades de cada cidade mostra que Curitiba tem condições de avançar ainda mais – isto é, de criar condições ambientais ainda mais favoráveis para atrair e desenvolver empreendimentos.

Claro que nem todas as condições que servem de parâmetro para a definição de qualidade dependem exclusivamente de iniciativas locais. Pensemos, por exemplo, na cultura estatizante que vê o poder público, e não a iniciativa privada, como o grande protagonista do crescimento econômico; ou no preconceito ideológico que os empreendedores sofrem pelo simples fato de se tornarem "patrões".

De um ponto de vista mais prático, exemplo de fator externo que mais prejudica o empreendedorismo – em qualquer lugar do país – é o peso da carga tributária e a complexidade com que se defrontam os empresários para (pasmem!) pagar seus impostos. Neste caso, apenas para mostrar o quanto estamos atrasados em relação a outras nações, cite-se outro ranking: enquanto no Brasil uma empresa gasta 2,6 mil horas para conseguir calcular e quitar suas obrigações tributárias, gastam-se 398 horas na China e 290 na Rússia – apenas para ficar na comparação com os Brics. É evidente que se trata de um fator basicamente externo em que só se avançará quando o país se dispuser a fazer a reforma tributária e a reduzir a burocracia do serviço público.

Mas, no caso de Curitiba, há outros campos de conquista que podem, pelo esforço próprio, serem acrescidos àqueles em que a capital do Paraná já apresenta vantagens comparativas em relação a outras cidades. O que levou Curitiba à quarta posição foi, por exemplo, a sua modelar infraestrutura, qualidade a que se somaram outras que são levadas em conta pelos empreendedores, tais como sua proximidade de mercados consumidores e do Porto de Paranaguá, acesso à cidade por aeroporto e boas rodovias, ambiente regulatório aceitável e capacidade de adesão a inovações e fontes de crédito.

Entretanto, deixam ainda a desejar fatores que dependem de foco e esforços próprios. Um deles, reconhecido por instituições de ensino superior, é o direcionamento dos cursos de graduação e pós-graduação voltados para a formação e capacitação de profissionais. Elas reconhecem existir uma defasagem entre o que as universidades transmitem e as demandas do mercado, e já buscam fazer esta aproximação.

Da mesma forma, nota-se por parte do governo estadual um esforço para simplificar a vida das empresas. O Paraná é um dos estados que aderiram à Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização das Empresas, a ser lançada no mês que vem, em Londrina. A expectativa é de que, com esta medida, se torne possível cumprir a burocracia de abertura de uma empresa em apenas dois dias, em vez dos 120 necessários atualmente. São iniciativas elogiáveis e que, com certeza, podem ser ampliadas para outros setores de modo a permitir que Curitiba alcance posições ainda mais privilegiadas nos próximos rankings.

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