Sempre que se aproximam as campanhas eleitorais, cresce o anseio da população para que elas ocorram em nível elevado; que o debate entre os candidatos seja firme e vigoroso, mas sem ataques pessoais e sem golpes rasteiros. A decisão que os eleitores gostariam de tomar no momento em que se virem diante da urna eletrônica é a de clicar no nome ou no partido que lhes tenha parecido mais comprometido com o bem público, que melhores propostas de ação tenha apresentado para exercer o cargo que postula.
Em um país que superou décadas de regime autoritário e que se acostumou a ir às urnas a cada dois anos para exercer o direito de votar, seria de se imaginar que tivéssemos já atingido alto grau de aperfeiçoamento da democracia. O que significa, obviamente, que nossos políticos, aqueles que buscam exercer o poder em nome do povo, se utilizariam de práticas de convencimento marcadas pela honesta exposição de suas propostas e se abstivessem de lançar mão de meios espúrios.
Infelizmente, este não é o cenário. Em vez disso, o que se observa a cada eleição é a degenerescência dos métodos de conquista de votos quer pelo abuso do poder econômico, da corrupção, de promessas tão demagógicas quanto irrealizáveis, quer pelas vias da mentira e da desqualificação desonesta dos adversários. Nada disso favorece o processo civilizatório e democrático que tanto almejamos mesmo porque, diante do predomínio de tantos maus, os homens de bem não só relutam em exercer a política como têm por ela a mais absoluta rejeição.
Quando se trata de identificar fatores para o crescimento dessa ojeriza generalizada, multiplicam-se os exemplos. O último deles, aliás, protagonizado exatamente por um personagem da vida pública brasileira que se notabilizou pela luta em favor das liberdades democráticas e que, graças à vitória que ajudou a construir, atingiu o mais alto degrau da representação popular no país: o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Seus últimos movimentos conspiram contra aquilo que devemos entender como de boa política. Embora não comprovadas, as evidências de que teria pretendido interferir no Poder Judiciário para retardar o julgamento dos réus do mensalão já seriam suficientes para manchar sua biografia, não tivesse se seguido a este gesto infeliz outro comportamento também nada recomendável: sua participação, como entrevistado, no programa popular de auditório do apresentador Ratinho.
Na ocasião, além de fazer propaganda extemporânea em favor do candidato que apoia para a prefeitura de São Paulo, Lula mostrou-se para dizer o mínimo arrogante ao se referir à sua disposição de se colocar (legitimamente) em oposição a outro grupo político de atuação nacional. O ex-presidente se disse disposto a se candidatar novamente ao Palácio do Planalto utilizando-se de um singelo argumento: "eu não vou permitir que um tucano volte à Presidência do Brasil". Palavras que revelam dois sentimentos de Lula não consentâneos com a democracia: aversão à salutar alternância do poder e um despropositado autoritarismo. Os altos índices de popularidade de que ainda desfruta não o autorizam a esse tipo de arrogância.
São gestos como este que prenunciam o nível insatisfatório em que provavelmente se desenrolarão as eleições deste ano e que exigirão do eleitor atenção redobrada para não cair nas armadilhas do discurso irresponsável a que estarão expostos até o dia da eleição.
Deixe sua opinião