Procura-se um deputado federal, peemedebista e paranaense para relacionamento de longo prazo com o Ministério da Transparência, Fiscalização e Controladoria-Geral da União. Pelo menos é o que já disseram abertamente políticos como o deputado Beto Mansur (PRB-PR); segundo informações de bastidores, encontrar o nome ideal seria missão dada pelo presidente Michel Temer ao líder do partido na Câmara, o paulista Baleia Rossi. Como o par perfeito ainda não foi encontrado, o secretário-executivo da pasta, Wagner Rosário, se tornou ministro interino.
A busca por um ministro começou quando Osmar Serraglio recusou a pasta, que serviria como prêmio de consolação após sua substituição, no Ministério da Justiça, por Torquato Jardim, que até então era o titular da Transparência – um movimento motivado mais pelo perfil de Jardim, que tem melhor trânsito no Judiciário, especialmente no Tribunal Superior Eleitoral (onde Temer enfrentará, na semana que vem, julgamento que pode cassar seu mandato), que pelo desgaste de Serraglio, gravado pela Operação Carne Fraca chamando de “grande chefe” o fiscal Daniel Gonçalves Filho, que está negociando delação premiada.
O retorno de Osmar Serraglio à Câmara dos Deputados é mortal para Rodrigo Rocha Loures, que perde o foro privilegiado
Mas por que a preferência por um paranaense? Infelizmente, ela não se deve ao fato de aqui estarem alguns dos principais nomes do combate recente à corrupção. Os motivos de Temer são bem mais prosaicos: o retorno de Serraglio à Câmara dos Deputados é mortal para Rodrigo Rocha Loures, um dos assessores mais próximos do presidente da República. Loures foi flagrado, em uma “ação controlada”, recebendo R$ 500 mil de propina (cujo destinatário final é desconhecido) em uma mala entregue por Ricardo Saud, executivo da JBS que negociou delação premiada. Ele também foi citado na conversa entre Temer e o dono da empresa, Joesley Batista.
Loures não conseguiu se eleger deputado em 2014, ficando na suplência. Com Serraglio na Esplanada dos Ministérios, ele assumiu o posto, que lhe garantiu prerrogativa de foro. Se o titular do mandato retorna ao parlamento, no entanto, tira o lugar – e o foro privilegiado – do suplente. Daí a lógica de nomear um outro deputado peemedebista paranaense para a Transparência, o que manteria Loures na Câmara. Faltou, no entanto, combinar com a bancada, já que os outros três deputados federais do PMDB paranaense disseram não ter o menor interesse no cargo, seja por priorizarem o mandato parlamentar, seja por pertencerem a um grupo político oposto ao de Temer dentro da legenda.
Impossível deixar de pensar em outro caso, o de Moreira Franco, que ocupa a Secretaria-Geral da Presidência, órgão ressuscitado por Temer e elevado ao status de ministério exatamente quando seu titular estava prestes a se tornar alvo de investigação dentro da Operação Lava Jato – Moreira Franco é o “Angorá” da delação do ex-executivo da Odebrecht Cláudio Melo Filho, cujo conteúdo vazou para a imprensa meses atrás. A mudança foi feita por medida provisória – que, aliás, vence nesta sexta-feira e deve ser reeditada com alterações mínimas, já que o texto de uma MP não pode ser idêntico ao de outra já em vigor.
Desde o terremoto causado pela divulgação do conteúdo dos áudios e da delação de Joesley Batista, Temer até esboça uma recuperação política que lhe permita se segurar no Planalto por mais algum tempo e até mesmo conseguir levar adiante algumas reformas. Mas o desespero para conceder foro privilegiado aos colaboradores mais próximos, ainda que os envolvidos neguem oficialmente qualquer negociação nesse sentido, é um forte sinal da derrocada moral do governo Michel Temer.