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O resultado da Cúpula da América Latina e Caribe realizada na Costa do Sauípe, Bahia, reflete de maneira bastante fiel as preocupações e expectativas de uma região marcada por contrastes políticos, sociais e econômicos. Mandatários dos 33 países da região expressaram de maneira clara a divergência essencial do bloco: o modelo de integração regional a seguir num mundo em crise.

O grupo liderado por Hugo Chávez, presidente da Venezuela, formalizou a novidade da Aliança Bolivariana para as Américas (Alba), ou seja, a proposta de união voltada para dentro, sem os Estados Unidos. O líder venezuelano insistiu na idéia de construir a união dos países vizinhos sobre um improdutivo sentimento de antiamericanismo. Mau começo. É preciso mais que um desafeto comum para fortalecer os laços de nações que, a despeito de uma herança histórica em comum, ainda caminham em direções tão distintas.

Os países capitaneados por Felipe Calderón, presidente do México, defenderam a área de Livre Comércio das Américas (Alca) com o argumento de que a saída para a integração (e também para a crise internacional) "não é cerrar fronteiras nem em âmbito regional e nem global". Mas, para que não fracasse a próxima reunião da Cúpula das Américas marcada para abril, em Trinidade e Tobago, é preciso que se tente algo realmente novo, que possa transformar o consenso quase impossível em uma aliança de salvação efetiva.

Apesar das divergências ideológicas, ocorreram discussões importantes na Costa do Sauípe. Isso graças à tradição e à habilidade da diplomacia brasileira. Como algodão entre cristais, os anfitriões não permitiram que o encontro fosse apenas uma caixa de ressonância para a barulhenta ala bolivariana. Não deixaram que Chávez tomasse as atenções para si, como gostaria. Também ficaram em segundo plano as desmedidas queixas do presidente paraguaio, Fernando Lugo, em torno da revisão do tratado de Itaipu e a moratória recém-declarada por Rafael Corrêa, presidente do Equador.

O Brasil preferiu não contaminar com questões particulares as discussões sobre o futuro do conjunto de países participantes do encontro. A União Sul-Americana de Nações (Unasul) aprovou a criação de um conselho regional de defesa que, entre muitas coisas, buscará reforçar a confiança entre as Forças Armadas da região.

A situação de Cuba mereceu atenção especial. Surgiu no encontro uma declaração formal de condenação ao embargo econômico imposto pelos Estados Unidos, vigente desde fevereiro de 1962. Cuba também ganhou sinal verde para entrar no Grupo do Rio – gesto de aproximação, cujo fundamento é reduzir o sofrimento imposto ao povo cubano, mas que não foi correspondido à altura por Raúl Castro. Deixando evidente que o ativismo pela liberdade continua a não ter lugar em seu país, ele lançou no ar uma infame barganha: propôs libertar opositores do regime castrista detidos em Cuba em troca da soltura de um grupo de espiões cubanos presos nos EUA.

A grande marca da cúpula foi o fato de que, pela primeira vez, representantes de todos os países da América Latina e Caribe se reuniram sem a presença dos Estados Unidos ou de nações européias. Como bem registrou o jornal The New York Times, "os líderes latino-americanos deram mais um passo para longe das décadas de órbita em torno dos EUA".

Como não se trata de trocar uma influência – a americana – por outra – a chavista/bolivariana –, é bom que o Brasil esteja à frente do processo, que deve ter como norte a liberdade e a democracia. Lutando por tais valores, sem bravatas nem tentativas de subjugar os países vizinhos, o Brasil mostra suas credenciais para exercer a liderança político-econômica da América Latina.

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