Nos partidos cujos membros estão envolvidos com os contratos irregulares da Câmara de Curitiba, qualquer decisão omissão, corporativismo ou moralização mandará uma mensagem importante para os eleitores
As recentes notícias da Câmara Municipal de Curitiba permitem uma reflexão sobre o papel dos partidos para assegurar o respeito às instituições democráticas brasileiras. Em 1985, com a redemocratização, o Brasil reinstituiu o pluripartidarismo e aos partidos foi concedido o monopólio da representação política, ou seja, somente candidatos vinculados a legendas podem ser eleitos para cargos públicos. Como a filiação a partido político é condição essencial para a candidatura, é desejável que as legendas sejam zelosas na indicação de seus melhores e mais bem preparados quadros para concorrer em eleições. No entanto, não é o que está ocorrendo.
Durante a semana que passou, a Gazeta do Povo e a RPC TV divulgaram a série de reportagens batizada de "Negócio Fechado", mostrando que empresas ligadas a servidores comissionados, que trabalham em gabinetes de vereadores, receberam recursos públicos para prestar serviços de publicidade para a Câmara Municipal de Curitiba. Em alguns casos, as empresas são diretamente ligadas aos vereadores. Essa prática afronta a Lei de Licitações e demonstra a falta de transparência na Câmara.
O desrespeito à lei ocorreu debaixo dos olhos de vereadores com certa projeção no Legislativo da capital. Funcionários tanto do gabinete do ex-presidente da Casa, João Cláudio Derosso (PSDB), como do atual presidente, João Cordeiro (PSDB), estão ligados a empresas que prestaram serviços de publicidade para a Câmara. Na "bancada" dos radialistas, a Gazeta e a RPC TV encontraram algo ainda mais alarmante: notas fiscais revelam que parte da verba de publicidade do Legislativo de Curitiba, nos últimos cinco anos, foi destinada a programas de radiodifusão de vereadores ou ex-vereadores.
Após quase três décadas da redemocratização, não é mais possível aceitar que os partidos políticos continuem a tolerar em seus quadros pessoas que não têm demonstrado zelo para conduzir os negócios da vida pública. É chegado o tempo de os partidos sinalizarem qual é o nível de comprometimento que pretendem ter na defesa das instituições.
Nesse sentido, a reunião do diretório do PSDB do Paraná, marcada para esta semana, será um indicador fundamental para os curitibanos. A discussão pode sinalizar quão comprometido o partido está com a sociedade, com seu programa ou com seus próprios quadros. Se o partido é realmente maior que as pessoas que o compõem, como afirmou o presidente em exercício da sigla,Valdir Rossoni, precisa, diante dos escândalos, tomar uma decisão firme, coerente com o discurso, e justificá-la para a sociedade. Da mesma forma, outros partidos cujos integrantes tenham envolvimento nos contratos publicitários irregulares da Câmara também não podem agir como se nada tivesse ocorrido. Neste ano eleitoral, a sociedade está muito atenta à ação ou à omissão dos partidos cujos integrantes estão envolvidos no esquema de malversação de dinheiro público.
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