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Editorial

Uma greve política

 | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
(Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo)

Diversas categorias já confirmaram participação na “greve geral” anunciada para esta sexta-feira – uma mobilização que já tem “sucesso” garantido graças à adesão de trabalhadores do transporte coletivo em várias cidades, o que certamente inviabilizará o deslocamento de muitos brasileiros que pretendiam, sim, trabalhar e não terão como chegar a fábricas, escritórios, comércio e outros locais de trabalho, dando a impressão de que o protesto é muito maior que na realidade.

Mas, à parte essas adesões “involuntárias” ao movimento grevista, por que tantas pessoas resolveram atender ao chamado de partidos políticos e centrais sindicais? Movidas por uma preocupação legítima com seus empregos e aposentadorias, elas acabam presas de um movimento político, que se aproveita da necessidade de reformas – sem dúvida duras, mas necessárias dada a situação em que o país foi colocado, por irresponsabilidade justamente daqueles que agora convocam greve geral – para conseguir objetivos político-partidários por meio da crítica às propostas do governo de Michel Temer.

Prova do caráter meramente político do 28 de abril é a repetição do que houve no protesto contra a reforma da Previdência, em 15 de março: quem defende a greve geral não oferece nenhuma proposta concreta e sensata para os problemas do país, confiando apenas na difusão fácil de palavras de ordem e slogans enganosos.

É muito mais provável que os slogans se tornem realidade caso não ocorra a reforma da Previdência

Veja-se o caso do “trabalhar até morrer” e do “fim da aposentadoria”, que, segundo os organizadores da greve, é o que acontecerá com a reforma da Previdência, que estabelece idade mínima para a aposentadoria e novas regras para determinar o valor do benefício, com a exigência de 40 anos de contribuição para o direito a 100% da média de todos os salários, limitada ao teto do INSS. De fato, uma mudança radical, que levanta dúvidas na população e cujo rigor realmente merece análise cuidadosa. Mas é muito mais provável que os slogans se tornem realidade caso não ocorra a reforma. O sistema brasileiro funciona no modelo de repartição, em que os trabalhadores de hoje bancam os benefícios dos aposentados de hoje, e assim sucessivamente. Portanto, os aposentados de 2047, para ficar em um exemplo, serão sustentados pelos trabalhadores de 2047. Em um cenário de natalidade em baixa e longevidade em alta, essa conta é impossível de fechar – já não fecha hoje, com déficits bilionários no sistema previdenciário. Sem reforma, o cenário mais provável é de achatamento extremo das aposentadorias, a ponto de não bastarem para o sustento básico dos pensionistas de amanhã, que não terão opção a não ser seguir trabalhando para se manter.

O mesmo ocorre com a reforma trabalhista. Em um país com 13 milhões de desempregados, em que a legislação cria diversos empecilhos para a contratação, é primordial uma reforma que permita novos arranjos e realidades de trabalho, com jornadas flexíveis e trabalho remoto, para citar apenas algumas situações contempladas pelo texto aprovado na Câmara dos Deputados.

E aqui reside o grande erro dos manifestantes desta sexta-feira: sua plataforma é a rejeição completa das reformas, não o aperfeiçoamento de pontos dos quais discordam. Os temas são complexos? Evidentemente que sim, e o próprio governo o reconhece. Exigem discussão, mas para isso é preciso, inicialmente, reconhecer que há problemas sérios que exigem correção urgente. Mas não: a briga é para manter tudo como está, inclusive os mecanismos de financiamento de muitas entidades que estão convocando a greve geral.

Mas a greve geral não é um movimento político apenas por mirar Temer. Os partidos de esquerda e suas entidades-satélites também precisam de uma demonstração de força às vésperas do depoimento do ex-presidente Lula ao juiz Sergio Moro, em Curitiba, como meio de estimular a militância.

Greves são um direito do trabalhador, mas como último recurso em negociações que girem em torno de pautas concretas para categorias concretas. O que está em curso não é nada disso: trata-se de uma tentativa de parar o país com motivações político-partidárias, camufladas na tal oposição a reformas essenciais para o Brasil. É a força a serviço do atraso.

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