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Editorial

Uma nova etapa

A visita do presidente George W. Bush vai durar apenas 20 horas. Ele chega hoje a São Paulo, onde se encontra com o presidente Lula, e já amanhã prossegue seu tour por países da América Latina em missão que, além do genérico objetivo de "estreitar os laços", guarda um sentido de estratégia política e econômica capaz de produzir forte repercussão mundial a médio e longo prazos, com impactos especialmente favoráveis para o futuro do Brasil.

De fato, com a visita do presidente norte-americano ao brasileiro, seus dois países começam a dar os primeiros passos oficiais e concretos destinados a produzir uma guinada histórica – isto é, reduzir a dependência global da matriz energética dominante, a do petróleo, e a oferecer ao mundo a alternativa do etanol, ecologicamente correta, economicamente viável e tecnologicamente muito mais simples.

A utilização do álcool da cana-de-açúcar apresenta-se hoje como a melhor solução para o angustiante problema ambiental causado pelo lançamento na atmosfera de milhões de toneladas de CO2, dejeto resultante da queima dos combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão mineral, a mais perigosa ameaça ao equilíbrio ambiental e à vida no planeta.

As maiores nações industrializadas preocupam-se com esta realidade e de sua preocupação é que nasceu o Tratado de Kyoto, pelo qual se obrigam a desenvolver políticas de redução da poluição que produzem. Constituem, portanto, um vasto mercado potencial para o etanol, que só tende a crescer na medida em que a produção e a logística de distribuição estiverem asseguradas.

A parceria entre os EUA e o Brasil é vital para tornar viável tal perspectiva. Unem-se de imediato o maior consumidor mundial com o que maiores possibilidades naturais e técnicas tem para assegurar a substituição dos combustíveis fósseis por outro de origem renovável. O compromisso mútuo que os dois países começam a firmar a partir de hoje guarda exatamente este sentido – um de consumir, outro de produzir, de modo a viabilizar a escala necessária para tornar o etanol uma commodity concorrente do petróleo.

Para se ter idéia do tamanho dessa parceria basta lembrar que os norte-americanos planejam diminuir em 20% o seu consumo de petróleo nos próximos dez anos, substituindo-o pelo etanol. Prevê-se que, ao fim desse período, a demanda anual norte-americana chegará a 132 bilhões de litros – o que significa uma quantidade sete vezes maior do que o Brasil produz hoje para atender, basicamente, as próprias necessidades.

Logo, se fosse para somente o Brasil abastecer os Estados Unidos e, por isso, tivesse de direcionar toda a sua produção para tal objetivo, teria de multiplicar por igual número sua área plantada de cana-de-açúcar, assim como expandir a capacidade de transformação, armazenamento, transporte e comercialização atualmente instalada – um desafio verdadeiramente gigantesco.

Mas não é nessa hipótese que se pensa. O projeto etanol vai além, pois prevê a inserção de muitos outros países no esforço de produção da matéria-prima e de ampliação da base industrial. O que pode significar o surgimento de uma nova fonte de riqueza para nações pobres situadas abaixo da linha do Equador.

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