O último dia do ano é momento de repensar as atitudes tomadas em 2015, fazer um exame de consciência, identificar os acertos e os erros – especialmente os erros, propondo-se não apenas a evitar sua repetição, mas principalmente a cultivar as virtudes opostas aos defeitos manifestados no ano que se encerra. Se a oposição resolvesse fazer semelhante análise, perceberia que, neste ano, deixou prevalecer a preguiça, a inércia, a indecisão e as escolhas de conveniência, de forma mais acentuada no que diz respeito a dois temas que se entrelaçam: o impeachment da presidente Dilma Rousseff e a cassação do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha.

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Mesmo quando já estavam evidentes as falcatruas e os métodos nada republicanos do presidente da Câmara, os partidos de oposição hesitaram em tomar a frente do movimento pela sua cassação. Tudo porque Eduardo Cunha era visto como peça necessária para levar adiante um eventual processo de impeachment de Dilma. Isso fez dele uma espécie de “noiva cobiçada” – não apenas pela oposição, diga-se a verdade: também o governo flertou com o presidente da Câmara e, com maior poder de fogo, entrou no “acordão” que buscava preservar ambos os mandatos: Cunha pouparia Dilma do impeachment e, por sua vez, o PT pegaria leve nos ataques a Cunha. O namoro só acabou quando os três petistas do Conselho de Ética da Câmara resolveram votar pela admissibilidade do processo de cassação de Cunha.

A oposição falhou miseravelmente em captar o sentimento popular

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A essa altura, os partidos de oposição também já tinham se colocado contra o presidente da Câmara, mas eram meros coadjuvantes. Afinal, os autores do pedido de abertura do processo de cassação de Cunha no Conselho de Ética sob acusação de quebra do decoro parlamentar tinham sido os partidos de esquerda Rede e PSol – apenas um tucano e um deputado do PPS assinaram o requerimento. Até mesmo o PT apareceu para a opinião pública de forma mais proativa que a oposição nesse episódio.

A oposição agiu a reboque também em relação ao impeachment de Dilma Rousseff. Após as grandes manifestações do primeiro semestre de 2015, seria natural que os partidos de oposição se pusessem à frente da campanha pelo impeachment, dadas as razões objetivas e legais que o fundamentam e que já eram conhecidas mesmo antes que o Tribunal de Contas da União recomendasse a rejeição das contas de Dilma. Mas especialmente o PSDB passou a maior parte do ano batendo cabeça, a ponto de os caciques do partido terem sido convocados mais de uma vez para tentar unificar o discurso; sua única estratégia acabou sendo a de proteger Eduardo Cunha, pelas razões que já descrevemos – isso apesar de as provas e evidências de amplo conhecimento público que implicam o deputado constituírem uma contradição em relação ao sentimento que levou tantos milhões às ruas.

De fato, mais do que pelas “pedaladas” que dão causa jurídica ao impeachment, de complexo entendimento pela sociedade, o povo se manifestou pelo fim do lulopetismo e pelo afastamento da presidente em razão do mar de lama do qual emergiram os escândalos de corrupção detectados pela Operação Lava Jato e por causa do esgarçamento do tecido social provocado pelas ideologias de esquerda. A oposição falhou miseravelmente em captar esse sentimento popular (em parte porque a social-democracia não deixa de ser uma corrente de pensamento de centro-esquerda) e preferiu as escolhas de conveniência, perdendo a capacidade de representar amplos segmentos da sociedade ávidos pela restauração da moralidade e da eficiência administrativa.

A letargia oposicionista confunde e desanima as massas, ao mesmo tempo em que oferece à presidente Dilma e ao PT a chance de reduzir o clamor popular aos estreitos limites de um “golpe deles contra nós”. Uma oposição proativa é necessária em qualquer democracia – que em 2016 o Brasil possa ver essa proatividade, em vez de partidos que apenas se deixam levar pelos acontecimentos.

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