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A chacina ocorrida uma semana atrás no bairro Uberaba, em Curitiba, elevou a preocupação dos curitibanos com a segurança pública. Ao ver bater à sua porta um tipo de crime antes circunscrito aos bolsões de violência das megalópoles brasileiras, os cidadãos puseram-se a refletir sobre o tema com mais ênfase do que faziam diante de crimes isolados, que de tão corriqueiros ficaram quase invisíveis.

O narcotráfico que se alimenta do medo e se fortalece com demonstrações de poder é o fator mais lembrado por quem examina o problema. Não é para menos. Como destaca o secretário municipal Antidrogas de Curitiba, Fernando Francischini, antes de chegar clandestinamente aos portos e aeroportos, a droga vai deixando um rastro de destruição. O uso do crack está cada vez mais visível, à luz do dia, nas ruas da cidade. Adolescentes ocupam altos postos na hierarquia do tráfico e os comandos da droga contam com a dependência desses meninos e meninas para mantê-los fiéis à organização. Dos bairros acossados, surgem relatos que explicam o relativo silêncio: a polícia nem sempre está ao lado das vítimas.

O tráfico e a corrupção policial são parte de um quadro dramático. Mas não explicam tudo. Primeiro porque o caso passa também pela geografia da cidade. Como destacamos no editoral do dia 6 de outubro, a matança de sábado é, sim, fruto da insegurança pública. Mas é também resultado da falta de planejamento urbano, situação que dificulta o acesso da polícia, da ambulância e do ônibus.

O caso é de vulnerabilidade. E não apenas econômica, mas também social. É mais fácil atrair para o tráfico crianças pobres que enxergam nele a única possibilidade de se tornarem visíveis para o resto do mundo. Tão simples quanto seduzir adolescentes que, mesmo sem quaisquer dificuldades materiais, trilham o caminho da dependência porque estão desorientados num mundo onde a competitividade é a regra e a solidariedade está ausente das lições paternas. Difícil desmontar a equação de que se beneficia o crime quando a negligência, seja em que classe social for, começa em casa. Eis porque o esfacelamento da família também precisa entrar nesse debate. Afinal, como salienta o sociólogo Lindomar Boneti, da PUCPR, a sociedade atual sofre uma crise de valores.

Nem tudo é lamento. Bem-estruturado, o Conselho de Segurança da CIC conseguiu reduzir os índices de violência da região, numa prova de que a mobilização da sociedade é uma pedra do sapato do crime organizado. Jus­­tamente pela confiança que deposita na cultura cívica e na atuação da sociedade na busca de soluções é que a Gazeta do Povo reuniu autoridades e líderes comunitários da cidade para um fórum sobre segurança pública. O problema tem raízes mútiplas. É gigantesco. Ramificado. A mobilização social para revertê-lo também precisa ser assim.

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