Como era de se esperar, o ditador Nicolás Maduro respondeu com violência às enormes manifestações de rua que pedem sua saída. As mortes ligadas aos protestos chegavam a 14 na manhã de quinta-feira, com centenas de prisões. Maduro, ao lado de outros líderes chavistas, como Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Constituinte, prometeu resistir ao que é o movimento mais forte até agora a tentar devolver a democracia à Venezuela. O ministro da Defesa e generais em regiões estratégicas também declararam apoio ao ditador, contra as pretensões do presidente interino, Juan Guaidó, reconhecido por maioria esmagadora da comunidade internacional. Enquanto isso, a população continua enfrentando nas ruas a Guarda Nacional Bolivariana.
Maduro resiste com o recurso à violência porque sabe que não conta mais com o apoio popular. Ninguém apareceu para ajudar a proteger o palácio de Miraflores, como havia pedido Cabello em seu discurso. O poder de Maduro se sustenta única e exclusivamente na lealdade das Forças Armadas, que o ditador comprou ao inflar o generalato e entregar aos militares o comando de empresas estatais importantes. Mas também há setores do Exército descontentes, e o resultado desta dissensão interna será decisivo para as perspectivas de um retorno da democracia à Venezuela.
Guaidó já prometeu anistia aos civis e militares ligados ao chavismo que o ajudarem a restabelecer a democracia na Venezuela
Uma adesão total das Forças Armadas a Guaidó, situação em que Maduro não teria outra saída a não ser deixar o poder rapidamente, parece improvável neste momento. A violência estatal tende a crescer em dois cenários: se o ditador enxergar chances reais de vitória contra as forças democráticas (infladas ou não por parte do Exército), ou se ele sentir que a derrota significará não apenas a perda do poder, mas também um castigo severo nas mãos dos novos governantes ou da população. Se Maduro estiver convencido de que terminará como o italiano Benito Mussolini ou o romeno Nicolae Ceaucescu, não pensará duas vezes antes de promover um banho de sangue como preço por sua cabeça.
Guaidó já prometeu anistia aos civis e militares ligados ao chavismo que o ajudarem a restabelecer a democracia na Venezuela, mas talvez isso não seja suficiente. O presidente interino e os líderes das forças democráticas também precisam considerar a possibilidade de oferecer uma saída a Maduro e aos demais líderes bolivarianos, como Cabello, caso o ditador não resista às pressões internas e externas, e antes que a situação venezuelana descambe para uma guerra civil. O exílio, em um cenário destes, aparece como opção. Ele certamente ofende o senso de justiça de todos aqueles que gostariam de ver Maduro e seus colaboradores mais próximos responderem por todos os crimes contra a humanidade cometidos pelo bolivarianismo em nome do “socialismo do século 21”. Mas, se o preço a pagar pelo retorno rápido da Venezuela à democracia com o menor número possível de mortes for deixar Maduro, Cabello e outros chavistas livres em Cuba, na Rússia, no México ou em algum outro país, longe do alcance do Tribunal Penal Internacional, este é um custo que vale a pena considerar. A prioridade não é castigar o tirano, mas libertar os venezuelanos da tirania.
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Esta solução, no entanto, teria de ser negociada – e logo, antes que haja uma escalada na violência. Como boa parte da comunidade internacional já tomou lado, escolhendo entre Guaidó e Maduro, restam poucas opções de mediadores, como a Organização das Nações Unidas ou o Vaticano, que já tentou esse papel no passado, sem sucesso – não por culpa dos negociadores papais, mas da intransigência de Maduro. Colocá-lo na mesa é algo que a comunidade internacional já alinhada com Guaidó pode fazer, reforçando sanções contra os chavistas. Depois, que se encontre a melhor forma de devolver a democracia à Venezuela.
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