Ouça este conteúdo
Enquanto representantes do grupo terrorista Hamas estão no Cairo negociando com Israel um possível cessar-fogo na Faixa de Gaza, centenas de estudantes em universidades americanas de elite, e também em outros países como Canadá, México, França e Reino Unido, fazem mobilizações, supostamente em favor da causa palestina. Mas, em vez de pedidos de paz, o que se tem visto é o recrudescimento da violência e do antissemitismo, com cânticos que pedem explicitamente o fim de Israel e de seu povo, ao mesmo tempo em que enaltecem os integrantes do Hamas, os mesmos que assassinaram a sangue frio 1.200 civis israelenses em outubro do ano passado, além de sequestrar outros 250, dos quais 130 ainda estão presos em Gaza.
Na Universidade de Colúmbia, em Nova York, um dos principais focos de protesto, era comum ouvir frases como “Arrasem Tel Aviv até o chão!”; "al-Qassam, você nos orgulha! Acerte mais um soldado!"; “Hamas, nós te amamos. Também apoiamos seus foguetes!”; “Vermelho, preto, verde e branco, apoiamos a luta do Hamas!” e "É certo se rebelar, al-Qassam, dê a eles o inferno!”. As brigadas al-Qassam são o braço armado do Hamas que entrou no território israelense em 7 de outubro de 2023, massacrando todos os que encontraram pela frente.
Só a crueldade demonstrada pelo Hamas durante os ataques de 7 de outubro já deveria bastar para impedir que qualquer pessoa demonstrasse apoio ao grupo terrorista.
Os estudantes não só manifestam seu apoio ao Hamas, mas também exigem que as universidades encerrem parcerias acadêmicas com instituições israelenses, condenem as ações de Israel na guerra e rejeitem doações de empresas e cidadãos israelenses. A violência também ocorre na perseguição direta a estudantes e funcionários judeus das universidades. Muitos têm medo de andar sozinhos pelos campi. Na Universidade Yale, localizada em Connecticut, também cenário de protestos pró-Palestina, estudantes que participavam dos protestos bloquearam a passagem de um estudante judeu que tentava entrar no campus da universidade. Há registros de agressões, xingamentos e cusparadas contra estudantes judeus. Na quarta-feira (1º), o embaixador de Israel na ONU, Gilad Erdan, chegou a comparar os protestos contra o país na Universidade de Columbia com a Noite dos Cristais, uma série de ataques contra a população judaica coordenados pela Alemanha nazista em 1938 – e que foi considerado o marco para a escalada da violência nazista contra os judeus.
É importante ressaltar que a manifestação pacífica de um posicionamento contrário à ação militar de Israel em Gaza ou a defesa da solução dos dois Estados, por exemplo, não tem nada de reprovável. Embora a reação de Israel contra o Hamas seja legítima, uma ação de defesa diante de um ato de barbárie imensurável, eventuais excessos contra a população palestina ou violações dos códigos internacionais podem e devem ser criticados. Mas não é isso o que se tem visto nas universidades. O que há, em sua maioria, é o apoio irrestrito e sem qualquer pudor ao Hamas, um grupo terrorista que tem como razão de ser a aniquilação de Israel e dos judeus.
Só a crueldade demonstrada pelo Hamas durante os ataques de 7 de outubro já deveria bastar para impedir que qualquer pessoa demonstrasse apoio ao grupo terrorista. As imagens que correram o mundo, de corpos esquartejados, bebês degolados e famílias inteiras trucidadas, não têm justificativa; são atos de tal brutalidade que deveriam inspirar uma profunda aversão ao Hamas e seus métodos brutais. O Hamas jamais foi um grupo de heróis da liberdade palestina; ao contrário, trata-se de um grupo que não tem qualquer escrúpulo em usar os próprios palestinos como escudos humanos ou em roubar os carregamentos de ajuda humanitária que entram em Gaza. Ainda assim, estudantes americanos, a milhares de quilômetros de Gaza, optam por apoiar explicitamente esses terroristas e, como eles, pregam o fim de Israel.
O recrudescimento do antissemitismo dentro das universidades americanas é reflexo, como mencionamos neste mesmo espaço, da deformação moral que atinge o ambiente universitário. Em dezembro do ano passado, quando as reitoras de três das principais universidades norte-americanas – Sally Kornbluth, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT); Liz Magill, da Universidade da Pensilvânia (Penn); e Claudine Gay, da Universidade Harvard – compareceram à Câmara de Representantes do Congresso norte-americano para uma audiência sobre manifestações antissemitas nos ambientes universitários, foi possível entender melhor o quão moralmente distorcido tornou-se o ambiente universitário.
Questionadas sobre se a defesa do genocídio de judeus constituiria assédio ou bullying de acordo com os regulamentos das respectivas universidades, as reitoras tergiversaram; os deputados seguiram pressionando até que as reitoras disseram que a resposta dependeria "do contexto", como se pudesse haver algum contexto em que fosse aceitável defender o genocídio dos judeus – ou de qualquer grupo –, assim como justificar o ato de barbárie cometido pelo Hamas em Israel. A mesma tolerância demonstrada pelas reitoras não acontece com aqueles que acabam questionando os cânones do identitarismo ou do dito progressismo que impera nos ambientes universitários. E é dentro desse progressismo e identitarismo que surgem aberrações como a ideia de que é justo e defensável pregar o fim de Israel e cometer atos de violência contra judeus, desde que seja em defesa da Palestina e do Hamas.
Infelizmente, não se trata de um fenômeno restrito às universidades americanas. Em todo o mundo, os ambientes que deveriam ser locais livres para o debate e exposição de ideias tornaram-se espaços de intolerância e perseguição, inclusive no Brasil. Em outubro do ano passado, por exemplo, uma aluna da PUC-RJ acabou silenciada ao tentar participar de um debate sobre o Hamas e Israel, onde o ataque dos terroristas foi tratado como uma "resposta a Israel".
Acabar com os acampamentos ou punir os estudantes com suspensões ou expulsões, ou mesmo prisão, como tem sido feito nos EUA, embora sejam medidas pontuais necessárias para evitar uma escalada ainda maior de atos antissemitas dentro do ambiente universitário, não irá resolver de vez o problema. Enquanto as universidades continuarem a ser bolhas isoladas da realidade, onde impera o discurso do progressismo, sem espaço para o contraditório e o verdadeiro debate, há o risco de que episódios de antissemitismo tornem-se cada vez mais comuns.