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editorial

US$ 100 bilhões na conta

O novo agronegócio não nega suas origens e mostra um Brasil em transformação. Longe de ser uma aposta equivocada, serve de inspiração para outros setores

O Brasil está fechando as contas da balança comercial de 2013 com um diagnóstico que se tornou regra há uma década: se não fosse o agronegócio, as exportações não seriam suficientes para cobrir as importações e haveria um rombo bilionário, com forte impacto na economia. A exportação anual do setor chega pela primeira vez a US$ 100 bilhões. Sem essa arrecadação, o déficit de 2013 seria de cerca de US$ 80 bilhões.

A constatação seguinte é a de que o país assume perfil de exportador de alimentos, com forte participação dos produtos primários – que têm menos valor agregado. Nessa linha de avaliação, conclui-se que existe algo errado, que outros setores (como a indústria de máquinas, por exemplo) deveriam ser protagonistas nas exportações para garantir mais desenvolvimento econômico ao país.

Porém, o novo perfil do agronegócio, mais industrial e especializado, e a própria maneira como o setor vem atuando no mercado internacional mostram uma situação bem diferente. Tornam-se oportunas reconsiderações que levem em conta esse novo quadro, até para que se compreenda o que está acontecendo Brasil afora.

Questão chave é que o agronegócio não se limita aos produtos primários. Embora as vendas de grãos tenham importância decisiva e estejam aumentando todo ano, outros itens – como as carnes, o açúcar, o etanol e o próprio farelo de soja – dão peso aos embarques. E são produtos industriais, que mobilizam também empresas de comércio e serviços no meio rural e na zona urbana.

Outra mudança decisiva é a expansão do setor em todas as regiões do país. Hoje a agricultura e a pecuária são atividades especializadas de norte a sul. A migração de produtores do Rio Grande do Sul e do Paraná para o Centro-Oeste e o Centro-Norte completa três décadas com implantação de lavouras até em Roraima, acima da linha do Equador. A disponibilidade de terras permitiu a expansão das lavouras, que somam perto de 55 milhões de hectares cultivados e podem chegar a 100 milhões. Com peso decisivo nas economias de 14 estados, a expansão do agronegócio significa crescimento em âmbito nacional.

E as lavouras são apenas uma ponta do setor, cada vez mais industrializado. Se o Brasil simplesmente seguisse os passos dos países ricos, teria apostado em outro tipo de indústria. A agroindustrialização enquanto alternativa de desenvolvimento está relacionada ao próprio perfil do território brasileiro. E provavelmente por isso evolui continuamente.

O Paraná e suas cooperativas são referência para outros estados de como o agronegócio pode se desdobrar em um leque de atividades de extensão ainda sem limites. Do alimento vendido em feiras até a indústria de exportação, os segmentos se multiplicam e acompanham a evolução do consumo.

A pauta de exportação, considerando o complexo que abrange soja e milho (os principais produtos da agricultura), ainda tem pouco valor agregado. No entanto, isso não ocorre por uma decisão do agronegócio ou por acomodação das cadeias envolvidas. O setor está seguindo tendências do mercado internacional, como o faz internamente. E as exportações direcionadas à China, que superaram as destinadas à Europa, devem continuar sendo de produtos primários por um bom tempo, por imposição de Pequim.

No entanto, ao assumir a liderança na produção e na exportação de soja, o Brasil ganha condições de estabelecer um plano de expansão agroindustrial. Acordos internacionais serão essenciais para que esse plano seja reconhecido e aceito pelos parceiros externos. Uma meta que terá de ser assumida com diplomacia estratégica.

Apesar da forte participação de artigos primários, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio atinge R$ 1 trilhão em 2013, com alta de 3,56%, conforme estudo endossado pela Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). São justamente os artigos primários, com expansão de 6,5% no mesmo período, que sustentam esse índice.

O novo agronegócio não nega suas origens, põe US$ 100 bilhões na conta das exportações e mostra um Brasil em transformação. Longe de ser uma aposta equivocada, serve de inspiração para outros setores, que ainda buscam encaixe mais acertado no país e no mercado internacional.

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