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Editorial

Vacinar-se para vencer a pandemia

Vacinação de idosos. (Foto: Eduardo Kapps/Prefeitura do Rio)

Já está mais que evidente: o que vai levar o Brasil a superar definitivamente a pandemia de coronavírus é a vacinação em massa da população. Resultados promissores já começam a aparecer em Israel, o país que vacinou a maior parte de sua população até o momento: com 90% das pessoas acima de 60 anos – o grupo de maior risco de complicações devidas à Covid-19 – tendo recebido pelo menos uma dose do imunizante, as infecções nesta faixa etária caíram 41% e as internações foram reduzidas em 31%.

As razões pelas quais a vacina é a solução são simples de compreender. Uma doença só é erradicada quando seu agente causador deixa de circular em uma sociedade. A mera existência de tratamentos eficazes não basta: há pessoas que não respondem aos medicamentos, ou há casos em que a doença é diagnosticada tarde demais. Deixar que um vírus continue circulando aumenta a possibilidade de mutações, como já está ocorrendo com o Sars-CoV-2. Daí a ênfase, diante desta pandemia global, na corrida por uma maneira de imunizar a população, o que terá efeitos não apenas sobre a saúde, mas também sobre a economia, permitindo a retomada sem restrições dos negócios, com recuperação do emprego e da renda.

Vacinar-se não é apenas uma questão individual, mas um pacto coletivo. Quem se imuniza também ajuda a proteger aqueles que, pelos mais diversos motivos, como idade ou contraindicações médicas, não podem receber a vacina

O Brasil, por suas dimensões, já está entre os líderes mundiais em números absolutos de vacinação, mas ainda engatinha em termos de proporção da população vacinada. Segundo o site Our World in Data, da Universidade de Oxford, pouco menos de 2,5% dos brasileiros já receberam alguma dose da vacina. O ritmo da vacinação tem gerado críticas e comparações com outras campanhas, e especialistas afirmam que, na velocidade atual, o país levaria de quatro a cinco anos para imunizar toda a população. A estimativa, no entanto, ignora o fato de que há uma corrida global pela vacina, na qual o Brasil saiu atrasado, mas que a oferta deve crescer à medida que novos imunizantes forem aprovados por agências sanitárias mundo agora e que os laboratórios ampliem sua capacidade de produção.

O país se vê, neste exato momento, diante de um gargalo, com o iminente fim dos primeiros lotes de vacinas trazidos do exterior ou produzidos localmente a partir de insumos importados. O Instituto Butantan e a Fiocruz, respectivamente parceiras na produção da Coronavac e da Covishield (o nome da vacina da Universidade de Oxford/AstraZeneca), ainda levarão algum tempo até serem capazes de produzir o Ingrediente Farmacêutico Ativo (IFA) das vacinas, o que permitirá ampliar muito a oferta de doses no Brasil. Enquanto isso não ocorre, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) eliminou uma burocracia desnecessária ao permitir o registro emergencial de vacinas que não tenham realizado suas fases finais de testes no Brasil, mas o tenham feito em outros países de acordo com padrões internacionais. Isso deve facilitar, de imediato, o uso da vacina russa Sputnik V, que também já tem parceria com um laboratório brasileiro para produção. Além disso, o Ministério da Saúde negocia a compra de dezenas de milhões de doses tanto da Sputnik V quanto da indiana Covaxin, que ainda depende de uma fase final de testes.

Mesmo quando a oferta de vacinas estiver normalizada, ainda haverá uma série de desafios a resolver, e não falamos apenas da imoralidade daqueles que furam a fila da vacinação, mas da necessidade da exposição de critérios claros para as prioridades e de uma logística eficaz para imunizar mais pessoas em um período mais curto de tempo, sem desperdícios. No entanto, nem todos os esforços possíveis de prefeituras, governos estaduais e governo federal bastarão se a população não aderir ao esforço de vacinação.

Como já lembramos em diversas ocasiões, vacinar-se não é apenas uma questão individual, mas um pacto coletivo. Muitas pessoas não poderão se imunizar pelos mais diversos motivos, como a idade (crianças e adolescentes não serão vacinados em um primeiro momento) ou condições médicas que desaconselham a vacinação, como alergias. Essas pessoas só estarão definitivamente protegidas da Covid-19 se todos aqueles a seu redor, por meio da vacina, formarem uma barreira que impeça o vírus de chegar até elas. Uma baixa cobertura vacinal não impedirá o vírus de circular e de contaminar essas pessoas que até desejariam ter se imunizado, mas não podem fazê-lo. É também pelo bem destes que, em conjunto com vários outros veículos de comunicação e a Associação Nacional de Jornais (ANJ), estimulamos o máximo possível de brasileiros a buscar a vacina. Só com parte significativa da população imunizada encerraremos de vez a pandemia, inclusive barrando a possibilidade de novas mutações do coronavírus.

Nunca na história da humanidade tantos recursos financeiros e intelectuais foram empenhados para combater uma doença de forma tão rápida. Essa confluência inédita, com cientistas em todo o mundo recebendo apoio quase ilimitado, permitiu que o desenvolvimento de várias vacinas contra a Covid-19 ocorresse em um período de tempo muito menor que aquele empregado para outras vacinas. É um esforço que não pode ser desperdiçado. Agora temos uma arma que impedirá novas mortes, novos lockdowns, quebradeira, desemprego e o aumento da pobreza resultante do caos econômico. Usemo-la com confiança.

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