No dia 24 deste mês, em Porto Alegre, três desembargadores do Tribunal Regional Federal da 4.ª Região terão um único trabalho: o de determinar se o juiz Sergio Moro estava certo ao condenar o ex-presidente Lula a nove anos e seis meses de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro, já que um tríplex no litoral paulista seria propina paga pela empreiteira OAS em troca de contratos com a Petrobras. Uma análise que tem, sim, suas consequências políticas, mas que no fundo é puramente técnica. Nada disso, claro, importa para Lula e o PT, que estão se movimentando para transformar o 24 de janeiro em um enorme circo, na melhor das hipóteses, ou em batalha campal, na pior delas.
Reforçando o discurso que já tinham adotado na época do mensalão, um manifesto multilíngue parte para o terrorismo ideológico ao afirmar, com todas as letras, que o processo contra Lula nada mais é que “perseguição política” que tem o objetivo de abolir o Estado Democrático de Direito no país. Depois de Lula, os próximos perseguidos seriam os chamados “movimentos sociais”, eufemismo que descreve as entidades-satélites do petismo. E “o arsenal de maldades de forças políticas que não prezam a democracia” inclui até o adiamento das eleições de outubro deste ano, que não está “fora de cogitação”, segundo o manifesto.
O que está por trás de toda a mobilização é a convicção de que a lei vale para todos, menos para os petistas, e menos ainda para Lula
Um leitor desavisado pensaria que o Brasil está perto de uma ditadura, e não de mais uma etapa de um processo judicial por corrupção, ainda que envolva uma das principais lideranças políticas do país e candidato declarado à Presidência da República, que vem fazendo campanha antecipada sem o menor escrúpulo. Assim como o impeachment de Dilma Rousseff, ocorrido em 2016, não teve nada de golpe, mas de mera aplicação da Constituição em um processo cujas regras foram definidas pela corte suprema do país – se erro houve, foi o vergonhoso fatiamento do julgamento decisivo no Senado, criando o bizarro cenário em que Dilma perdeu o cargo, mas não os direitos políticos.
Mas o manifesto, com sua linguagem que apela a um perigo inexistente, é mero flatus vocis que joga para a plateia e, no máximo, deve comover algum cidadão mais desavisado. Mais preocupante é o que pode ocorrer nos atos que o PT planeja realizar, especialmente no dia do julgamento. O calendário de manifestações foi acertado em uma reunião com lideranças petistas, além do MST – também conhecido como “exército de Stédile” – e da CUT, cujo presidente, Vagner Freitas, já falou em “pegar em armas” para defender Dilma Rousseff do impeachment. Os sem-terra montarão um acampamento em Porto Alegre no dia 21.
O partido promete “manifestações pacíficas”, “como é da tradição do PT e dos movimentos populares”. E alguém pode até lembrar que, quando dos depoimentos de Lula a Sergio Moro em Curitiba, realmente não houve tumulto. Mas a “tradição” não é tão pacífica assim; basta lembrar que atos sindicais já exaltaram a presença de black blocs entre os manifestantes, que a violência é praticamente um método do MST (que já tentou até invadir o STF e o Palácio do Planalto), que os “movimentos sociais” deixaram um rastro de destruição em Brasília no dia da primeira votação da PEC do Teto no Senado, e que militantes espancavam manifestantes, incluindo funcionários da Petrobras, enquanto Lula discursava na sede da Associação Brasileira de Imprensa supostamente “em defesa” da estatal. Esses atos de violência jamais mereceram reprimenda do petismo – em alguns casos, foram até elogiados e recompensados.
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No início de 2016, em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, o ex-ministro petista Gilberto Carvalho disse que, se a Lava Jato chegasse a Lula, “eu temo muito por um processo que nos leve ao que acontece na Venezuela, porque você vai levar ao processo de justiçamento, de justiça com as próprias mãos, e haverá um ódio progressivo”. Pois a Lava Jato já chegou a Lula e pode, agora, levá-lo à cadeia ou pelo menos frustrar sua ambição presidencial. Se isso ocorrer, só nos resta torcer para que a promessa de Carvalho não seja cumprida. Mas, dado o histórico, seria irresponsabilidade das autoridades não considerar o pior cenário.
O que está por trás de toda a mobilização, no fundo, é a convicção de que a lei vale para todos, menos para os petistas, e menos ainda para Lula. Foi assim no mensalão e vem sendo assim na Lava Jato, com criminosos condenados sendo louvados como “guerreiros do povo brasileiro”. E, se Lula não é um brasileiro comum, sujeito a bobagens como a lei, vale tudo, até tentar pressionar a Justiça e fazer terrorismo ideológico em manifestos que são verdadeiras aulas de fake news.
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