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Desde que foi criado num célebre congresso realizado em Curitiba em 1985, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) identificou-se com a luta pela reforma agrária, entendida como uma reivindicação justa a ser apoiada por toda a sociedade. E desde cedo elegeu a invasão de propriedades como método para forçar o alcance de tal objetivo, como se viu com a palavra de ordem que inscreveu já em seu manifesto inaugural: "Ocupação é a solução". Duas décadas depois, porém, o MST muda de objetivo e radicaliza ainda mais seu método. Cresce em ousadia e amplia suas ameaças.

De fato, ao que parece, já não lhe é prioridade a reforma agrária. E nem a invasão de propriedades ditas improdutivas é agora sua estratégia preferencial. A partir de agora, segundo definiu o líder João Pedro Stédile, a organização deve alargar seus horizontes: "o inimigo não é mais o latifundiário tradicional, é o grande capital internacional."

O inimigo pode ter mudado, mas não mudou a violência – pelo contrário, esta cresceu em intensidade e em vandalismo, como seu viu com meridiana clareza com o lamentável episódio registrado na última quarta-feira no Rio Grande do Sul, quando um grupo de 2 mil militantes, na maioria mulheres, invadiu e destruiu as instalações de um centro de pesquisa da empresa Aracruz Celulose. Em meia hora de depredação, foram destruídos os laboratórios e, o que é pior, mais de 20 anos de trabalho e de acumulação de valioso conhecimento científico no campo florestal.

No dia seguinte, a televisão estampou a chocante alegria com que as mulheres usadas para o ato festejaram o sucesso da tarefa destrutiva, ao mesmo tempo em que, de novo, o mesmo Stédile cumprimentava as ‘companheiras’ pela coragem e pelos resultados obtidos. Com linguajar típico, ele comemorou sua vitória: "Os governos são puxa-sacos das multinacionais. O que é incrível é um governo de esquerda também ser."

Se a ação do movimento, em razão de sua crescente radicalização e da perigosa ampliação de suas frentes de luta, é, por si só, preocupante, mais preocupante ainda é a leniência com que tudo isso vem sendo encarado pelas autoridades. Apesar das manifestações que se produziram no âmbito do governo, às vezes em tons retóricos irados, não foram notadas até o momento providências efetivas e eficazes de ordem policial e judicial para o enquadramento dos responsáveis na legislação criminal.

Não se coloca a polícia e nem a justiça contra a reforma agrária – uma reivindicação social que deve ser respeitada e atendida na plenitude das possibilidades do país e sempre dentro dos parâmetros do direito. Mas não se pode conceber a continuidade do vandalismo que recai sobre a integridade do patrimônio alheio e ameaça a própria ordem e a paz social. É de responsabilidade das autoridades constituídas diligenciar para cumprir sua obrigação constitucional indelegável: fazer valer a lei.

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