A situação política, econômica e so­­cial da Venezuela se deteriorou ra­­pidamente nos últimos meses, deixando o presidente Hugo Chávez na situação mais crítica, em 11 anos de go­­verno. As ruas de Caracas e de muitas cidades estão cada vez mais tomadas por manifestantes que pedem o fim do regime, diante do caos econômico que se instalou no país, da repressão indiscriminada aos opositores, da censura aos meios de comunicação e de outras medidas autoritárias que desrespeitam sistematicamente os direitos humanos e a Constituição.

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Nesta semana, mais uma ação política de um grupo de antigos aliados de Chávez, liderados pelo ex-ministro das Relações Exteriores Luis Alfonso Dávila e pelo ex-ministro da De­­fesa Raúl Isaías Baduel, engrossou o cordão dos descontentes, revelando o ponto a que chegou a fragilidade do governo. O grupo pe­­diu a renúncia de Hugo Chávez, argumentan­­do que o presidente perdeu a legitimidade. "Para afastar este país de outros males, como os que ocorrem agora, nós formalmente pedimos que você renuncie", disse a nota do grupo que se intitula Polo Constitucional. Os antigos aliados acusam o presidente de exercer um "modo autocrático, totalitário e autocentrado de governar". Além disso, argumentam que seus constantes ataques verbais aos opositores estão levando o país a um clima de "intolerância" e "ressentimento".

Como é possível ver, o isolamento político de Chávez é cada vez maior no plano interno. E a oposição ganha novas forças todos os dias, apesar da repressão cada vez mais virulenta. Há rumores de sérios descontentamentos nas Forças Armadas, o que tem levado o próprio Chávez a reiterados desmentidos de que não há perigo de golpe de Estado. No plano exter­­no, o desgaste do líder populista vem obrigando aliados, como o presidente Lula, a mu­­dar de comportamento nos últimos dias. A impressão que se tem é de que o presidente bra­­sileiro, de repente, emudeceu a respeito de assuntos internos daquele país de que tanto falava. Quem resume a situação política do país, no entanto, é o presidente eleito do Chile, Sebastián Piñera: "A Venezuela não é uma democracia".

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Mas é no dia a dia da população que se manifesta a crua realidade do país. A Ve­­ne­­zuela parece um país à deriva ou pronto para explodir, diante das suas graves dificuldades. Enfrenta toda a sorte de problemas, co­­mo a falta de água e de eletricidade, a falta de gêneros de primeira necessidade (nos supermercados o que mais se vê são prateleiras vazias), a falta de infraestrutura básica, de saneamento e de saúde, a miséria, a alta criminalidade (os homicídios triplicaram desde que Chávez assumiu o poder, tornando Ca­­racas uma das cidades mais perigosas do mundo) e a corrupção. Os preços dos alimentos e bens subiram às alturas, reina a bagunça cambial, impera o mercado negro nas ruas e muitos já passam fome. Na verdade, a economia venezuelana enfrenta uma profunda recessão e submerge cada vez mais. Os economistas já projetam uma inflação que pode chegar a 60% nos próximos meses.

Toda essa situação é o mais cristalino re­­sultado de uma política fracassada de go­­verno. Da mentira institucionalizada, da incompetência e da intolerância. Por trás de um discurso arrogante e ideologizado, aparentemente favorável aos mais humildes, em nome de um socialismo fantasma, existe uma incomensurável farsa. Farsa esta perpetrada por um ditador que governa apenas em proveito próprio e de seu grupo. Diante de tan­­tos males que causou ao povo venezuela­­no, com suas insanidades, é possível dizer que Hugo Chávez já tem lugar garantido na tenebrosa galeria dos homens que precisam ser esquecidos pela história.