O Brasil começou 2016 em destaque na imprensa internacional. Não pela festa de réveillon em Copacabana, nem porque neste ano a realização dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro atrairá a atenção global. A revista britânica The Economist dedicou a capa de seu primeiro número de 2016 à tragédia econômica em que o governo Dilma Rousseff lançou o Brasil. Um editorial e a principal reportagem da edição datada de 2 de janeiro mostram aos leitores de todo o mundo o cenário que já conhecemos: ao fim de 2016, o Brasil terá registrado a maior recessão em um século; duas agências de classificação de risco já tratam o país como não confiável; a inflação está escapando do controle, apesar das elevações na taxa de juros. O país que deveria estar na vanguarda dos emergentes é um desastre.
O diagnóstico da publicação é certeiro: Dilma não tem o pulso para tomar as medidas duras, mas necessárias, para colocar o Brasil de volta no rumo do crescimento. Apesar de ter chamado para o governo um economista liberal, Joaquim Levy, a presidente não o prestigiou: bombardeado pelo PT e derrotado constantemente pelo colega da pasta do Planejamento, Nelson Barbosa, expoente da ala gastadora do governo, Levy deixou o governo e acabou sucedido pelo próprio Barbosa, em um sinal inequívoco de que não há o menor interesse em austeridade na administração das contas públicas.
Lula e Dilma não se dispuseram a aproveitar os tempos de bonança e apoio parlamentar para fazer as reformas necessárias
O Brasil, lembra a Economist, tem problemas estruturais que existem antes da chegada do PT ao poder: uma legislação trabalhista engessada, um sistema previdenciário condenado à quebra, um orçamento paralisado por diversas exigências legais e constitucionais, regras tributárias que consomem 2,6 mil horas de trabalho de uma empresa (sete vezes a média latino-americana), baixa produtividade, um sistema político-partidário totalmente disfuncional. Mas Lula e Dilma não se dispuseram a aproveitar os tempos de bonança e apoio parlamentar para fazer as reformas necessárias: em vez disso, investiram no populismo e apostaram no estímulo à economia via consumo. Quando os preços das commodities brasileiras caíram no mercado internacional e a “nova matriz econômica” cobrou seu preço, ficou evidente o custo dessa grave omissão.
Por se tratar de uma análise principalmente econômica, a revista dedica pouco espaço à questão do impeachment e às “pedaladas”, que fornecem a justificativa legal para o pedido. Uma pena, pois as “pedaladas” não são um escorregão qualquer: elas são o exemplo acabado do descaso com o dinheiro público que está na raiz dos problemas atuais dos cofres do Estado.
Na reportagem, a Economist afirma que vários economistas ouvidos preveem que o Brasil seguirá até 2018 “empurrando com a barriga”, uma situação em que “Dilma mantém o cargo, o Congresso aprova modestos cortes de gastos e aumentos de impostos, incluindo a CPMF, o Banco Central continua a lutar contra a inflação, o real barato impulsiona as exportações e os investidores não entram em pânico”. É difícil, no entanto, imaginar como o país aguentaria esse banho-maria por mais três anos, especialmente considerando que em 2016 o desemprego deve mostrar um rosto ainda mais feio que em 2015 e que, segundo analistas do banco Barclays ouvidos pela revista, a dívida brasileira deve alcançar 93% do PIB em 2019, criando um cenário mais complicado que o de países até mais endividados, como Grécia (197%) e Japão (246%). Esse “ir levando” apesar dos pesares, sem energia para pedir as mudanças necessárias, parece ser a sina do brasileiro; e é assim que o país se encaminha para uma segunda década perdida em 40 anos.
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