Depois das fortes críticas recebidas pela decisão de apresentar apenas parcialmente os gastos da verba indenizatória de R$ 15 mil que cada deputado federal recebe por mês, no início da semana passada, a direção da Câmara mudou de postura. Resolveu divulgar o Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ) das empresas pagas com esses recursos.
As notas não serão reproduzidas, mas as informações estarão disponíveis em uma planilha a ser divulgada na internet.Ficou mantida a decisão de não divulgar as prestações de contas feitas antes deste ato da Mesa Diretora, o que impede a conferência das despesas realizadas da criação da verba indenizatória, em 2002, até agora. Mas, feitas as contas, observa-se que foram avanços importantes para a transparência que deve ser dada aos gastos com dinheiro público. A maior lição do episódio foi a comprovação de que a pressão da opinião pública pode mover montanhas. Foi graças a ela que o presidente da Câmara, Michel Temer, resolveu incluir o CNPJ dos fornecedores no pacote.
A mesma pressão precisa, agora, ser exercida sobre o Senado, onde uma ideia que paira nos gabinetes pode sepultar a prestação de contas e ainda elevar os gastos com o Legislativo. É que o senador José Sarney defendeu, ao fim da semana passada, que a verba indenizatória do Poder Legislativo seja extinta. Não se trata, é claro, de um súbito ato de desprendimento. Sarney quer o apoio de seus pares para a projeto de Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), que sugere incorporar parte da verba ao salário dos senadores. Com isso, os vencimentos de cada um deles passaria dos atuais R$ 16,5 mil para R$ 24,5 mil. O salário seria, assim, equiparado ao dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Com o artifício, estaria aberto o caminho para que os senadores reivindicassem um reajuste cada vez que o salário dos ministros do STF fosse elevado algo que, aliás, está em vias de ocorrer. De quebra, os parlamentares ficariam livres da tarefa de apresentar notas fiscais para comprovar os gastos com alimentação, transporte e outras despesas cobertas pela verba indenizatória.
Não há dúvida de que a manobra deve ser rechaçada de imediato pela sociedade. A prestação de contas precisa existir com transparência irrestrita, abrangendo inclusive documentos anteriores à adoção da medida.
Não custa lembrar que os extras de cada senador não se resumem à verba indenizatória. Incluem ainda uma cota postal e telefônica de R$ 4.200, passagens para o estado de origem, R$ 60 mil para o pagamento de funcionários e R$ 3 mil para o auxílio-moradia, no caso dos que não moram em apartamentos funcionais.
O que se tem, até este ponto, é a promessa de uma prestação de contas dos deputados federais daqui a pouco mais de um mês, no portal da Câmara, incluindo o CNPJ das empresas que receberam os valores. O olhar vigilante da sociedade civil organizada precisa garantir que não haja retrocessos, que o balão de ensaio de Sarney não prospere. Em vez disso, espera-se uma divulgação cada vez mais ampla de tudo o que é pago com dinheiro público.
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