| Foto: Edilson Rodrigues/Agência Senado

Em 11 de julho, os partidos de esquerda mostraram mais uma vez sua falta de apreço pela democracia: sabendo que não tinham os votos para barrar a reforma trabalhista, as senadoras Gleisi Hoffmann (PT-PR), Lídice da Mata (PSB-BA), Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM), Fátima Bezerra (PT-RN), Ângela Portela (PDT-RR) e Regina Sousa (PT-PI) tomaram a mesa diretora do Senado com o objetivo de impedir a votação. Negaram a essência do seu mandato parlamentar, ao pretender barrar o funcionamento da instituição a que pertencem. Ao usar a força para impor suas convicções, as senadoras mostraram sua face autoritária.

CARREGANDO :)

Uma punição exemplar era o mínimo que se esperaria para as senadoras

No próprio dia 11, o senador José Medeiros (PSD-MT) tomou a única atitude possível após uma situação dessas: ofereceu denúncia contra as seis senadoras no Conselho de Ética da casa. Nada mais acertado, pois elas foram muito além de quebrar o decoro parlamentar: elas atentaram contra a própria democracia, ao prejudicar o funcionamento das instituições. Outros 14 senadores assinaram a representação, e uma punição exemplar era o mínimo que se esperaria em um caso desses, para mandar uma mensagem inequívoca a respeito do grave erro que se comete quando se tenta impor convicções pela força.

Publicidade

Mas não foi o que ocorreu: em reunião na última terça-feira, dia 8, o Conselho de Ética decidiu pelo arquivamento da denúncia. Como não poderia deixar de ser, mais uma vez petistas procuraram tumultuar a sessão – desta vez, a tarefa coube a Lindbergh Farias, que interrompeu o presidente do conselho, João Alberto (PMDB-MA), quando ele anunciava as regras para a escolha do relator da denúncia. Houve bate-boca e suspensão temporária da sessão; por fim, a denúncia foi arquivada por 12 votos a dois – o apreço pela democracia anda tão em baixa no Senado que mesmo parlamentares de PSDB, Democratas e PP ajudaram a livrar as senadoras de esquerda.

Leia também:Ocupação da mesa do Senado é expressão de totalitarismo (editorial de 11 de julho de 2017)

Leia também:A força bruta se impõe novamente (editorial de 20 de junho de 2017)

“Acho que caberia advertência, mas, como é um aviso, quero dizer que, num gesto de boa vontade, eu vou votar ‘sim’, torcendo para que nenhum outro senador tenha esse comportamento”, disse o senador Romero Jucá (PMDB-RR), um dos que aliviou para as senadoras. Tremenda ingenuidade ou, no pior dos casos, hipocrisia. Pois, ao deixarem impunes as responsáveis pela tomada da mesa diretora do Senado, Jucá e seus pares do Conselho de Ética deixam aberta a porta para que ocorram novos episódios, e agora com um precedente que impedirá punições futuras. Ganham os autoritários, perde a democracia.