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As eleições norte-americanas da terça-feira colocaram o presidente Barack Obama em maus lençóis. No pleito, foram escolhidos todos os 435 deputados da Câmara de Representantes e 33 dos 100 senadores, além de governadores em 36 dos 50 estados e vários outros cargos públicos. O que mais chama a atenção foi o resultado das eleições para o Legislativo. Os republicanos, oposição a Obama, já dominavam a Câmara, mas os democratas eram maioria no Senado, com 53 cadeiras e o apoio habitual de dois senadores independentes.

Mesmo com a contagem de votos ainda em andamento no Alasca e na Virgínia, e a necessidade de um segundo turno na Louisiana, os republicanos já podiam comemorar. Mantiveram a maioria na Câmara e ganharam sete novas cadeiras no Senado (para controlar a casa, precisavam de seis). Isso significa que Obama vai passar seus dois últimos anos de mandato lidando com um Congresso em que as duas casas têm maioria oposicionista. A questão que permanece é o tipo de oposição que os republicanos farão daqui em diante.

O sistema eleitoral norte-americano favorece as visões extremistas – de ambos os lados. Antes de disputar as cadeiras em jogo, políticos do mesmo partido têm de concorrer uns contra os outros pela indicação, e as primárias viraram um concurso para descobrir quem é mais radical em suas convicções. Isso já afastou da política muitos moderados, de ambos os partidos, que tinham décadas de carreira parlamentar em Washington, abrindo caminho para ainda mais extremismo. Quando se considera que, segundo pesquisa do Pew Research Center, apenas 25% daqueles que descrevem suas convicções políticas como "moderadas" pretendiam votar na terça-feira (contra 73% dos "mais conservadores" e 58% dos "mais liberais" – no jargão político norte-americano, o termo "liberal" é associado a ideias mais à esquerda), é de se imaginar que os eleitos seriam aqueles com discurso mais hostil em relação ao adversário.

No entanto, a revista britânica The Economist aponta que pelo menos alguns dos novos senadores republicanos não são exatamente do tipo que se curva às exigências das alas mais radicais do partido ou ao Tea Party, o que pode ser uma esperança de ressurgimento de um grupo mais moderado – desde que, claro, haja democratas dispostos a fazer o mesmo e se distanciar dos grupos mais exaltados à esquerda. Pelo menos no discurso, o senador Mitch McConnell, que comandará a casa a partir de 2015, demonstrou disposição para o trabalho conjunto.

Os parlamentares norte-americanos ofereceram ao mundo alguns espetáculos grotescos recentemente, como o impasse que, em 2013, levou o governo ao chamado shutdown, em que diversas operações governamentais tiveram de ser suspensas por 16 dias enquanto não se chegava a um acordo sobre o orçamento federal de 2014; ou as discussões sobre a elevação do teto da dívida do país, que colocaram os Estados Unidos à beira do calote. Os que continuarão no Congresso e os novatos que assumirão seus postos em 2015 precisam aprender que a boa política exige trabalho conjunto, ainda que sem abrir mão das próprias convicções.

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