Depois de vencer a queda de braço na Câmara dos Deputados para a aprovação do novo salário mínimo de R$ 545, na última semana, o governo tem mais um embate previsto para hoje, quando a matéria será apreciada pelo Senado. A expectativa para a votação é de um novo êxito governista, que não admite reajuste maior, como querem oposição e sindicalistas, pelos possíveis reflexos negativos na inflação. A se confirmarem as previsões otimistas para o resultado no Senado, a batida de martelo do novo mínimo em R$ 545 é dada como certa.
Na articulação política para garantir a vontade palaciana na definição do índice do mínimo, chama a atenção o papel do PMDB, que, no caso da Câmara, votou em peso pelos R$ 545, sem nenhum deputado dissidente. Aí, justamente, podem residir futuras dores de cabeça para a presidente Dilma Rousseff, por mais paradoxal que isso possa parecer. Explica-se: a fidelidade demonstrada até agora pelos peemedebistas e isso não é segredo para ninguém mira antes de tudo o interesse na definição dos nomes que irão compor o segundo escalão do governo. Com seu costumeiro apetite por cargos e poder, o PMDB quer ser retribuído à altura pela obediência demonstrada. Até mesmo como forma de o partido compensar a perda para o PT de ministérios importantes que detinha ao tempo do ex-presidente Lula. O objeto de desejo peemedebista são diretorias da Caixa Econômica, Banco do Brasil, Itaipu, Furnas, do Departamento Nacional de Produção Mineral e do Departamento Nacional de Obras contra as Secas, para citar algumas.
Como irá se comportar a presidente Dilma diante das inevitáveis pressões que virão é a indagação que se faz. Contrariamente ao estilo politiqueiro e falastrão de Lula, ela vem dando alguns sinais positivos de que não pretende ceder ao jogo rasteiro e às chantagens a que historicamente são submetidos os presidentes pela própria base aliada. Afinal, a prática sempre foi a do aviltamento da máquina administrativa a partir do loteamento dos cargos, segundo interesses políticos. Resgatar a autonomia da presidente para que possa governar com sua base de sustentação, sem dúvida, mas sem as amarras que hoje existem, é passo importante no caminho das necessárias mudanças nas práticas políticas vigentes.