Prêmio Pritzker de Arquitetura deste ano, uma honraria classificada como o Prêmio Nobel da Arquitetura, Paulo Mendes da Rocha declarou que a flor do conhecimento humano é a cidade. "É tudo que temos e o que de melhor podemos fazer." Para se ter a dimensão exata da importância do prêmio, basta lembrar que, antes dele, apenas Oscar Niemeyer havia recebido a honraria. E, certamente, vale estender o comentário do arquiteto à construção da democracia, da qual acabamos de viver e construir um capítulo histórico com as eleições de domingo passado.
Ou seja, a democracia é, de muitas maneiras e formas, tudo o que temos e, mais importante, é o que de melhor podemos fazer para deixar às próximas gerações. Com todas as imperfeições possíveis, é a "cidade" que estamos ajudando a erguer. E não apenas nos períodos eleitorais, com a troca dos mandatários pelos novos escolhidos mediante o voto livre e soberano. Não deve existir, na verdade, vencidos e vencedores. Há, isso sim, a manutenção de um processo de contínua renovação mediante o salutar choque de idéias e de pensamento, de sugestões e contribuições transformadas em projetos e programas.
Vale lembrar, a respeito de democracia, o que tem ensinado a socióloga Marilena Chauí, reconhecida como pensadora importante não apenas no meio acadêmico, posto que, como cidadã, é uma ativista das liberdades e direitos fundamentais da pessoa humana, uma figura política de permanente militância militância esclarecida, independentemente da agremiação política que tenha abraçado, abraça ou venha a abraçar. Diz ela que democracia é conflito. Ou seja, "democracia é o único regime político no qual os conflitos são considerados o princípio mesmo do seu funcionamento".
Vai além a professora da Universidade de São Paulo (USP), afirmando que o que temos vivido no país nos últimos anos é democracia em pleno funcionamento. "É uma coisa espantosa e certamente deixa as pessoas desorientadas porque é uma experiência inédita no país. Mas é a mais profunda experiência de democracia que esse país já teve."
Os embates e desafios continuarão, felizmente, posto que são os propulsores da caminhada democrática. Como já foi reiterado neste espaço de opinião, continuaremos a dar a nossa contribuição, pautada em quase nove décadas de permanente defesa dos interesses do Paraná e do Brasil. De igual modo, e sempre buscando o pluralismo, oferecer informações necessárias à formação da consciência crítica e coletiva da população, já que imprensa e cidadania são indissociáveis num fórum civilizado.
Resta dizer ainda que, honrando as tradições da Gazeta do Povo, continuaremos vigilantes quanto aos compromissos assumidos pelos candidatos. Se o político obtém um mandato temporário para falar e agir em nome do cidadão, o mandato da imprensa é mais amplo e perene, concedido pela sociedade, o que a transforma em porta-voz da coletividade e guardiã de seus sonhos e projetos.
Não há democracia sem imprensa livre, sempre é bom repetir. Até porque sempre há espaço para os falsos democratas.