Soldado israelense orienta veículo blindado na Faixa de Gaza. Reservista Yuval Vagdani serviu na região antes de viagem de férias ao Brasil.| Foto: Abir Sultan/EFE/EPA
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Uma decisão atabalhoada de uma juíza de primeira instância conseguiu aprofundar a crise diplomática entre Israel e Brasil, marcada pelas constantes críticas do presidente Lula à ofensiva israelense contra o Hamas, na Faixa de Gaza, e o Hezbollah, no sul do Líbano. No fim do ano passado, a magistrada Raquel Soares Chiarelli, do Distrito Federal, ordenou que a Polícia Federal abrisse investigação contra um reservista das Forças de Defesa de Israel (FDI) que passava férias na Bahia, o que, por sua vez, levou até mesmo a embaixada israelense no Brasil a interferir para garantir a segurança de seu cidadão.

Yuval Vagdani, 21 anos, serviu como reservista no Batalhão Tzabar, da Brigada Givati, do exército israelense, e atuou na ofensiva em Gaza. Encerrado o seu período nas FDI, recebeu a dispensa e veio ao Brasil com amigos, em uma viagem que estava planejada havia três anos. Já na Bahia, em 4 de janeiro, Vagdani soube que era alvo de uma denúncia por supostos crimes de guerra – mais especificamente, a demolição de edifícios de uso civil, muitos deles comprovadamente usados pelo Hamas para esconder sua infraestrutura terrorista. No dia seguinte, 5 de janeiro, a juíza ordenou que a investigação fosse conduzida sob sigilo, mas àquela altura o ex-soldado já tinha deixado o Brasil rumo à Argentina, acompanhado por um representante diplomático israelense.

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Yuval Vagdani sobreviveu ao 7 de outubro para, quase um ano e meio depois, voltar a ser perseguido, tratado como suspeito, tudo por ser um ex-militar israelense

A perseguição contra Yuval Vagdani foi iniciada por dois advogados brasileiros que representavam a Fundação Hind Rajab, uma ONG pró-Palestina que, no fim das contas, serve como braço jurídico do terrorismo islâmico palestino para constranger israelenses onde quer que estejam. Criada quase um ano após o massacre de 7 de outubro de 2023, a entidade é presidida por um ex-membro do Hezbollah que mentiu sobre desentendimentos com a cúpula da organização terrorista para conseguir se radicar na Bélgica; um dos cofundadores afirmou, a respeito do ataque terrorista do Hamas, que os palestinos estavam apenas “simplesmente retornando para casa e recuperando suas propriedades”. O grupo se especializou em encontrar soldados ou ex-soldados israelenses no exterior e acionar as autoridades dos países visitados por eles, alegando a prática de “crimes de guerra” e invocando o Estatuto de Roma, já que a Fundação Hind Rajab afirmou ter ido ao Tribunal Penal Internacional (TPI) contra mais de mil militares israelenses – casos semelhantes ao de Vagdani já ocorreram no Chipre, na Eslovênia e na Holanda. A corte, no entanto, não tomou nenhuma decisão neste caso, o que não impediu a juíza Raquel Chiarelli de cair na esparrela dos defensores de terroristas e fazer o jogo deles, ainda que inadvertidamente.

O reservista Vagdani já tinha sido alvo do terrorismo islâmico em 7 de outubro – ele estava no festival de música Supernova, onde os terroristas mataram 364 pessoas e sequestraram outras 40. Sobreviveu para, quase um ano e meio depois, voltar a ser perseguido, tratado como suspeito de crimes contra a humanidade sem nenhuma outra evidência a não ser algumas fotografias em zona de guerra, tudo por ser um ex-militar israelense. É legítimo discutir se o governo israelense cometeu crimes de guerra em sua luta para se proteger da ameaça terrorista do Hamas, mas, na ausência de provas robustas ou de uma decisão do TPI contra indivíduos que integrem as Forças de Defesa de Israel, o que temos é um oportunismo rasteiro que criminaliza pessoas por serem israelenses e terem feito (ou fazer) parte de um exército regular.

Felizmente, o Ministério Público Federal tratou de abafar o caso, afirmando em parecer que as alegações do grupo pró-terrorismo são muito frágeis. Mas o estrago já está feito. Yuval Vagdani afirmou em entrevista que, por mais que a viagem ao Brasil fosse um sonho, jamais voltará a colocar os pés por aqui. Parlamentares israelenses, tanto aliados quanto opositores do premiê Benjamin Netanyahu, expressaram sua indignação (mas também aproveitaram o caso para se criticar mutuamente). Que um episódio como esse tenha ocorrido com a ajuda do Judiciário brasileiro é ainda mais vergonhoso, em nova demonstração de que o Brasil, apesar de não registrar atos antissemitas como os registrados em novembro na Holanda, não é exatamente um local onde israelenses ou judeus possam se sentir totalmente tranquilos.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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