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Atletas olímpicos não se contentam com desempenhos medíocres; devemos aproveitar essa lição também no cotidiano

A partir de hoje, bilhões de espectadores em todo o mundo acompanharão o esforço, os dramas e as façanhas dos atletas olímpicos em Londres. O esporte – assim como a ciência, a arte, a política ou a religião – tem a capacidade de revelar o melhor e o pior do ser humano. É inegável, por exemplo, seu papel na construção de pontes que levam, posteriormente, à paz entre países beligerantes. Em plena Guerra Fria, as duas Alemanhas formaram uma única delegação nos Jogos de 1956, 1960 e 1964; as duas Coreias, apesar de competirem separadas, entraram juntas, sob uma única bandeira, nas aberturas dos Jogos de 2000 e 2004. Exemplos de nobreza são frequentes, como o do alemão Lutz Long, cujos conselhos permitiram a Jesse Owens vencê-lo no salto em distância em Berlim, em 1936; ou o do iatista canadense Lawrence Lemieux, que em 1988 abandonou uma regata para salvar dois colegas que haviam sido lançados ao mar. A primeira medalha de ouro olímpica brasileira, do atirador Guilherme Paraense, em 1920, foi conquistada com uma pistola emprestada por um competidor norte-americano.

Infelizmente, também o esporte é alvo da desonestidade, seja de atletas e técnicos que recorrem ao doping, seja de cartolas e dirigentes corruptos – nem mesmo o movimento olímpico escapou dos escândalos, como o da compra de votos para a escolha da sede dos Jogos de Inverno de 2002. O racismo, que hoje é combatido principalmente nos estádios de futebol, também mancha a história olímpica: um caso célebre foi a perseguição sofrida pelos corredores norte-americanos Tommie Smith e John Carlos, após protestarem, no pódio, contra o preconceito de que os negros eram vítimas nos Estados Unidos dos anos 60; as represálias atingiram inclusive o australiano (e branco) Peter Norman, o terceiro medalhista naquela ocasião e que demonstrou seu apoio aos colegas. Não se pode ignorar o uso político dos eventos esportivos, seja por sediá-los (como a Alemanha nazista em 1936), seja com boicotes, ou aproveitando o sucesso nas competições – caso do futebol nas ditaduras militares brasileira e argentina, e principalmente dos países socialistas, que recorriam a empregos de fachada para que seus atletas profissionais pudessem ir aos Jogos Olímpicos quando o evento só aceitava amadores. Até mesmo o terrorismo já atingiu o evento, no triste episódio de Munique, quando atletas israelenses foram mortos por palestinos.

A principal lição do esporte, no entanto, é a da busca pela excelência. Diante da maneira como Usain Bolt ou Michael Phelps vencem suas competições, é fácil pensar que os ídolos olímpicos simplesmente "nasceram para isso", ignorando que a natureza, por si só, não é capaz de gerar campeões. Mesmo aqueles agraciados com as características físicas que facilitam a prática de determinado esporte sacrificam outros interesses e gastam horas a fio, muitas vezes diariamente, em busca de centésimos de segundo a menos, ou do aperfeiçoamento de um movimento corporal que os levará à vitória. Competidores que não são considerados favoritos buscarão, durante esses dias olímpicos, superar pelo menos suas melhores marcas e, ainda que fiquem longe dos holofotes destinados aos medalhistas, se darão por satisfeitos vencendo a si mesmos. Não deixa de ser notável que, em algumas competições, os painéis com resultados indiquem não apenas novos recordes mundiais ou olímpicos, mas também as ocasiões em que um atleta obtém sua melhor performance pessoal.

São pouquíssimos os que terão a chance de, um dia, disputar os Jogos Olímpicos, ou mesmo se tornarem excelentes na prática de um esporte. No entanto, todos temos a oportunidade de buscar o melhor desempenho possível na vida familiar, na profissão ou como cidadãos, membros de uma comunidade. Nada disso depende de berço ou de talentos dados pela natureza; depende do esforço pessoal, aliado à existência de condições propícias para o desenvolvimento pleno das capacidades de cada um. Atletas (e torcedores) não costumam se contentar com a mediocridade; a partir do momento em que todos apliquem esta mesma mentalidade ao próprio cotidiano, teremos uma mudança para melhor na sociedade.

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