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O julgamento do mensalão chega ao fim, com grande pressão da mídia para envolver o ex-presidente Lula, sem êxito. O longo julgamento nem terminou e surge uma operação da Polícia Federal, prendendo várias pessoas do governo por venda de pareceres. Entre os principais envolvidos está Rosemary Noronha, ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo. Novamente a mídia dá ampla repercussão – semelhante à do mensalão –, tentando envolver Lula.

E acrescente-se, ainda, a divulgação do depoimento dado por Marcos Valério ao Ministério Público Federal em setembro último, tentando envolver Lula novamente no mensalão. O ex-presidente minimizou o episódio chamando Marcos Valério de mentiroso; com ele fizeram coro a presidente Dilma Rousseff e as principais lideranças do PT, que desqualificam o depoimento de Valério (condenado a mais de 40 anos de prisão) ao MPF. A desqualificação de tal depoimento parte da premissa de que Valério quer, com isso, uma redução de pena.

A ação recente da oposição – ir ao MPF e protocolar uma representação pedindo apuração dos fatos recentes divulgados pela mídia – é mais uma tentativa de desgastar Lula e de sobreviver politicamente diante do desmoronamento que vem sofrendo, atestado pelo fraco desempenho do DEM, PSDB e PPS nas últimas eleições municipais. Cogita-se, inclusive, a fusão dessas três siglas para evitar que virem partidos nanicos. Mesmo com toda essa estratégia de ataque ao PT, o partido continuou crescendo e ganhou a eleição em São Paulo, principal colégio eleitoral do país, com um candidato indicado por Lula, pouco conhecido e que iniciou a campanha com apenas 3% de intenções de voto. Este fato, aliado à eleição de Dilma, como mérito de Lula, preocupa as elites que temem a reeleição da presidente ou a volta de Lula, deixando-as cada vez mais distantes do retorno à Presidência da República.

Lula, neste momento, deve estar pensando em como foi ingênuo ao acreditar que poderia chegar ao poder e mantê-lo apenas com as alianças com as elites econômicas e políticas, representadas por Collor, Sarney, Maluf e Roberto Jefferson – que iniciou todo esse processo de denúncias que culminou na CPI e no julgamento do mensalão pelo STF. Que erro primário acreditar que, para chegar ao poder, era necessário assumir as mesmas práticas corruptas das elites como a compra de votos e uso do caixa dois – principal argumento dos advogados de defesa dos petistas no STF, tentando desqualificar a tese do mensalão, que foi a compra de votos no Congresso Nacional.

Todo esse processo tem permitido a percepção de que há um preconceito muito forte das elites em relação ao operário de macacão, sem curso superior, que ganhou o apoio das massas em níveis bem superiores a outros presidentes mais recentes e oriundos das elites econômicas e políticas do país.

Talvez essa história recente, que sangrou a carne dos petistas, possibilite ao PT uma revisão dos seus erros e um reencontro orgânico com as suas bases, que nunca deveria ter abandonado em troca de alianças espúrias, do uso e abuso dos cargos privilegiados nas estatais e nos gabinetes refrigerados do poder instalado no planalto e na planície.

Lafaiete Neves, doutor em Desenvolvimento Econômico, é pesquisador do Ipea/Capes e professor aposentado do Departamento de Economia da UFPR.

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