Dia 3 de outubro último faleceu no Rio de Janeiro, aos 82 anos de idade, a cantora Emilinha Borba, grande mito da música popular brasileira, com atuação na fase de ouro de nossa história, período de 1929 a 1957.
Época que me apanhou na mocidade, da qual guardei tudo o que me apaixonou, deve sua explosão a vários fatores que, simultaneamente, se conjugaram: a criação do samba e da marchinha, vindo dos anos anteriores; o evento do rádio, da gravação, e do cinema falado; e a coincidência de uma geração de talentosos compositores, letristas, cantores e músicos, cujas criações representam o mais lídimo acervo de nossa arte musical.
Nessa onda Emilinha marcou presença como intérprete de marchas e rumbas brilhando no cinema e no programa César de Alencar ao simular um confronto com Marlene, multiplicando sucessos, aplausos e admiradores. Emilinha, suave e bonita, Marlene, espontânea e alegre, entretinham uma falsa rivalidade para bem próprio e animação dos fãs apinhados no 23.º andar do Edifício da Noite, de onde se espraiava para o Brasil, a voz da Rádio Nacional, congênere da Mairink Veiga e da Tupi-Tamoio.
No elenco dos ídolos que medravam, foram ambas catalogadas como musas de auditório, melhores e únicas no gênero, diferentes de colegas de outros caminhos, e ambientes, inclusive Carmem Miranda, brejeira, graciosa e sensual, sua irmã Aurora e as sambistas Aracy de Almeida e Marília Batista a se dedicaram ao ritmo mais gravado da época, o samba, com 6.706 produções seguido das marchinhas com l.225. Desempenhando papel importante na promoção dessas cadências, Noel Rosa, Ataulfo Alves, Wilson Batista, Herivelto Martins, Lupicínio Rodrigues, Ari Barroso, no primeiro e Lamartine Babo, João de Barros, Haroldo Lobo e Roberto Martins no segundo. Como intérpretes predominava o sexo masculino com os quatro grandes, Francisco Alves, Sílvio Caldas, Orlando Silva, e Carlos Galhardo, acompanhados de Mário Reis, Gilberto Alves, Nelson Gonçalves, Vicente Celestino, Deo, Nuno Roland, Jorge Goulart, Lúcio Alves, Ciro Monteiro, Moreira da Silva, João Petra de Barros, a voz de l8 quilates. Entre as cantoras, Dalva de Oliveira, Elizabeth Cardoso, Dóris Monteiro, Ângela Maria, Linda e Dircinha Batista, Isaura Garcia, Carmélia Alves, Elen de Lima, Nora Ney.
Emilinha Borba iniciou passando por programas de calouro até contar com os favores de Carmem Miranda a pedir para o diretor do Cassino da Urca, Mario Rolla, que a contratasse para o elenco da Casa. Sua estréia explodiu bombasticamente em 1947, cantando e dançando com elegância e graça a rumba "Escandalosa", consolidando seu prestígio de estrela dos auditórios, em 27 anos consecutivos na Rádio Nacional, onde explodiu de vez. Lançou 89 LPs, 71 compactos e 117 discos de 78 rotações. Acumulou homenagens e títulos, entre os quais o de favorita da Marinha, em 1950, galardão que preservou até o fim da vida.
Deixou para a posteridade, além de "Escandalosa", a marcha carnavalesca, "Chiquita Bacana", de João de Barros e Alberto Ribeiro, "Paraíba" e "Baião de Dois", famosas criações de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, sucessos de sua carreira, lançados em março de 50. Encontro na jornada de Emilinha Borba, do começo ao fim, da glória ao ostracismo, do canto ao desencanto uma notória semelhança com o destino de Dircinha Batista. Ambas com marchas carnavalescas de enorme sucesso, mas duvidosa inspiração, para uma "Chiquita Bacana" para outra "Piriquitinho Verde", de Nassará e Sá Roriz, em 1938. Filha do ventríloquo Baptista Júnior e irmã de Linda fez vários filmes. gravou 300 discos de 78 rotações, vindo a falecer em l999 aos 77 anos de idade.
Recordando os velhos carnavais, seleciono dez músicas: "Pastorinhas" ("A estrela Dalva no céu desponta..."); "O teu cabelo não nega" (Mulata, porque és mulata na cor..."); Máscara Negra ("Quanto riso, quanta alegria..."); "Dama das Camélias" ("A sorrir você me apareceu..."); Malmequer ("Eu desfolhei o malmequer..."). Essas duas composições foram finalistas do carnaval de 40, submetidas a um júri sob a presidência de Villa-Lobos. Contra o voto de Pixinguinha, ganhou a primeira, na voz de Francisco Alves. "Malmequer", com Orlando Silva, foi a terceira, precedida por "Pele Vermelha", que ninguém sabe e ninguém viu. "Florisbela" ("Entre uma rosa amarela, um cravo branco e um jasmim..."); "Linda Morena" ("Morena que me faz penar, a lua cheia que tanto brilha..."); "Brinco" ("Com pandeiro ou sem pandeiro eeê eu brinco..."); "Touradas em Madrid" ("Eu fui às touradas em Madrid, paratimbum, bum bum...") "Linda Lourinha" ("lourinha dos olhos claros de cristal..."). E mais: "Uma andorinha não faz verão", "Deixa a lua sossegada", "Pirata da perna de pau", "Pierrô Apaixonado", "Aurora", "Alá-la ô" (hino do carnaval brasileiro).
No início de 1939, numa noite chuvosa Ary Barroso compôs "Aquarela do Brasil), obra-prima de nossas estantes musicais, a expandir-se universalmente. Foi gravado por vários cantores e orquestras, tornando-se uma espécie de hino nacional. Pois, pois. Sem prever as pompas que viriam, Ary inscreveu "Aquarela do Brasil" no concurso para o carnaval de l940, cuja comissão julgadora tinha como presidente o maestro Villa-Lobos. Venceu "Ó seu Oscar" em 1.º, "Despedida da Mangueira" em 2.º , e "Cai, Cai", em 3.º.
A música é um celeiro de notáveis enredos, algumas injustiças e um belo assunto para os gregos e os troianos.
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