As empresas e seus gestores, ambos com idades acima dos trinta-e-muitos, estão preocupadíssimos com os tais Y, a geração nascida nos pós-1980. Pois deviam se preocupar mais com os X (nascidos entre 1960 e 1980) e com os boomers (do pós-guerra a 1960). As estatísticas indicam que teremos mais de 32 milhões de pessoas com mais de 60 anos em 2025 no Brasil. No mundo, os sexagenários serão 2,5 bilhões de pessoas, um terço da população.

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Estamos tão fascinados com smartphones e tablets que não percebemos os avanços da tecnologia médica. Aí é que a ficção científica parece coisa antiga. Já é possível construir órgãos em laboratório, verdadeiras peças de reposição. Existem projetos para corrigir ou controlar aspectos genéticos das células, cirurgias cerebrais sem cortes, controle de tumores e sua extinção, enfim, vamos acabar morrendo mais de susto que de doença.

Os nascidos na pátria amada nos idos de 1900 tinham expectativa de vida de 47 anos. Os que nasceram 100 anos depois contam viver até os 70. Se tivessem nascido no Japão, viveriam 82. Lá já são 50 mil centenários. Enquanto toda essa maravilha acontece, ficamos aí nos preocupando com essa garotada Y que não tem parada. Pergunte a eles se já pensaram que viverão 120 anos e o que planejam fazer até lá.

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Criamos esses meninos e meninas com um nível de tecnologia que, como geração, fomos mais capazes de desenvolver que de usar. Foram educados para serem multitarefa, desde cedo tinham agenda: escola, esporte, dança, música, inglês, espanhol, depois mandarim. Agora, pedimos que eles tenham paciência e calma. Estranhos, esses senhores de cabelos brancos.

Mais estranho ainda é que continuamos vendo os 60 anos como uma linha de chegada. Nossas organizações preparam a aposentadoria dessa turma como faziam nos anos 1950. À época fazia sentido, tanto porque as condições de saúde dos "anciãos" comprometiam sua produtividade, quanto pela justiça de lhes permitir algum descanso.

Tenho orientado vários empresários a ir buscar aposentados em casa e criar condições de trabalho adequadas para eles. Isso é vanguardismo: olhar para essa quantidade de conhecimento e sabedoria de forma positiva. A empresa de sucesso dos próximos anos saberá acomodar quatro gerações simultaneamente em seus quadros de pessoal.

A capacidade de pensar é muito recente. Nos 4 milhões de anos passados, desde que descemos das árvores e até há pouco, não vivíamos mais que 30 ou 40 anos. O discípulo perdia seu mestre muito cedo. O mestre mesmo não tinha tempo de usufruir e desenvolver sua poderosa máquina cerebral. Agora podemos contar com o conhecimento dos "anciãos" junto com a energia dos Y. As atribuições de cada geração dentro da empresa têm de ser adequadamente desenhadas. Quem gerencia sabe que erros são tão eternos quanto diamantes. Rasga-se dinheiro por não aprender, em lugar de usar "sêniores" para ensinar, orientar e mesmo executar tarefas, além de planejar processos, educar.

A pessoa da terceira idade busca menos protagonismo, reflete mais, apoia mais. Tudo que um bom Y precisa. Aos que têm 60: pensem na próxima carreira, vocês terão uns 30 anos para se dedicar a ela. Aos mais jovens: não nos peçam paciência, apenas se preparem para ficar ainda mais velhos que nós.

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Ricardo Cipullo, engenheiro pós-graduado em Marketing e Finanças, é consultor empresarial e sócio do Renaissance Executive Forums.