Começo a acreditar que, se depender do próprio Congresso, do governo e da bateria de CPIs em funcionamento, toda essa crise política vai dar em nada ou em quase nada, agravando a decepção da população e colocando mais um prego no esquife do prestígio institucional dos políticos. Por quê? Porque fica cada vez mais evidente que entre o fascínio dos refletores e a de 30 segundos de fama no Jornal Nacional; e a realização de uma investigação realmente profunda e produtiva, os investigadores têm sistematicamente privilegiado as delícias da fama súbita e da simpatia da opinião pública. Porque também fica progressivamente mais claro que há enormes áreas de sombra no funcionamento intestino dos governos que muitos preferem deixar como estão, para evitar o ofuscamento causado pela luz súbita.
Se não for pelo deslumbramento da notoriedade global, como explicar que os parlamentares insistam em uma sucessão de depoimentos de pouco ou nenhum valor quando os depoentes chegam à CPI previamente protegidos por habeas corpus que lhes garante o direito de mentir ou omitir fatos para não se auto-incriminar? Que aceitem ficar horas e horas ouvindo lorotas de todos os tipos e vendo sua inteligência ser impiedosamente agredida pelo cinismo de alguns deles? Trinta segundos no JN compensam tudo.
Só a preocupação em garantir para si alguns poucos segundos de fama televisiva é que pode explicar que um promotor público do estado de São Paulo jogue fora as precauções mínimas de sua profissão, que exige paciência, imparcialidade e competência e corra para transmitir a repórteres ávidos de novidades os detalhes de um depoimento que ouviu antes mesmo que acabasse. Uma conduta minimamente cautelosa para com a verdade e o respeito constitucional à preservação da honra e da imagem de terceiros citados no depoimento exigiria que antes de aceitar prima facie a versão ouvida de alguém acusado de um crime, fosse realizada uma verificação factual e documental do que disse a respeito de terceiros, especialmente quando o depoente está sendo recompensado para denunciar outras pessoas. Aliás, houvesse obedecido às cautelas normais, o promotor paulista teria poupado a si mesmo o constrangimento de ter de aparecer na tevê confortado por dois colegas de MP declarando que não havia feito juízos de valor e que havia divulgado apenas as informações de uma das partes, o que não é exatamente o que se espera de alguém que realmente busque apenas a verdade dos fatos com imparcialidade.
Minha outra razão de ceticismo é que "o tempo passa, o tempo voa e a turma do mensalão continua numa boa". Já se fala abertamente em "acordão", alguns dos envolvidos se movimentam com desenvoltura para transferir as responsabilidades de apuração de uma CPI para outra a fim de atrasá-las e todos encontraram um porto seguro na tese de que nada mais fizeram (sic) do que utilizar "recursos não contabilizados" no pagamento de suas despesas eleitorais, velha e disseminada prática nacional como alega o próprio presidente da República, que, aliás, está doido para "tocar a vida pra frente", "olhar para o futuro" e tudo o mais que feche a cortina dessa tragicomédia que estamos vivendo. Já se passaram mais de cem dias desde que o funcionário dos Correios embolsou aquele maço de 3 mil reais e até agora a CPI dos Correios não foi capaz de descobrir de onde surgiu tanto dinheiro manuseado pelo indefectível Marcos Valério, nem de levar o ministro Gushiken, que era o responsável pela política de comunicação do governo federal, a depor na CPI para explicar por que tanto dinheiro público foi carreado para algumas poucas agências de publicidade altamente envolvidas com o PT; não conseguiu até agora desmontar essa farsa da versão do depoimento do tesoureiro do PT de que, sozinho, assumiu a responsabilidade por empréstimos de mais de 40 milhões de reais sem que nenhum outro mandarim do partido e do governo estranhassem o maná divino inesgotável que os alimentava a ponto de, pelo menos, lhe perguntarem a origem de tanta bonanza: milhões para o PTB, milhões para o PL, milhões para o Duda Mendonça, não sei quantos milhões para ajudar o pagamento de campanhas milionárias Brasil afora, etc.
Minha esperança cada vez mais se concentra no binômio ex-amor e efeito cafetina. Você, paciente leitor, viu a foto da ex-mulher do ex-deputado Waldemar Costa Neto entregando um papelucho ao presidente do Conselho de Ética demonstrando enorme prazer? Era o convite para o jantar que ela jurava que tinha sido oferecido ao ex-marido em Taiwan anos atrás, de onde ele teria trazido alguns muitos dólares para ajudar nas suas campanhas cívicas, o que ele negava. É o velho ditado: a vingança é um prato que se come frio como uma sopa vichissoise. E a essa altura, o Waldemar deve estar balbuciando o samba de Martinho da Vila: "Ex-amor, gostaria que tu soubesses, o quanto que eu sofri ao ter que me afastar de ti, não chorei, como um louco eu até sorri, mas no fundo só eu sei das angústias que senti".
O efeito da cafetina Jane pode ser mais devastador e poderá estimular outros ex-amores a revelar podres ainda insuspeitados. Outro dia ouvi da experiente esposa de um político, calejada por anos e anos de convívio com a realpolitik, uma frase reveladora: "Dinheiro na cueca ainda vai, mas batom na cueca, nunca!
Belmiro Valverde Jobim Castor é professor do Mestrado da FAE Business School e membro da Academia Paranaense de Letras.
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