A presidente Dilma Rousseff anunciou que o lema de seu segundo mandato seria "Brasil, pátria educadora". Algumas de suas ações anteriores e posteriores, como o corte de gastos no setor e a nomeação de um ministro com histórico de conflitos com educadores no Ceará, fazem duvidar da sinceridade da presidente. Mas o lema, em si, não é fora de propósito. Desde que o Brasil é Brasil, o lamento e o brado retumbante vão para a qualidade sofrível de nossa educação. É nossa maior demanda e a mais longeva. A expressão usada pela presidente é recorrente nos meios educacionais. Fala-se com empolgação em "cidade educadora" ao sugerir que a educação que merece esse nome extrapola os limites da escola e passa pela rua, pelo trânsito, pelas instituições, pelo cidadão comum. No interior das escolas, igualmente, afirma-se que todos os que ali estão são educadores: do guarda, passando pela cantineira, chegando à professora. É um princípio. Com o que se quer dizer que o ideal é pôr para funcionar uma sociedade educadora, tirando o peso das costas da escola. Daí para uma pátria educadora seria um passo.
No bojo do conceito de uma sociedade educadora estão duas ideias: excelência e equidade (esta última, mais cara a quem trabalha com ensino). Quando houver ambas, haverá uma pátria educadora e não há outra cartografia para se chegar lá. Nenhuma das duas ideias é nova, mas, enquanto a excelência amarga um triste esquecimento, a equidade está na moda. Basta uma procura na internet para se dar conta da quantidade e da qualidade dos artigos que a investigam, como o estudo da Fundação Lemmann que aponta 215 escolas públicas brasileiras que avançaram na equidade. Outra coisa esses levantamentos não fazem senão se perguntar como garantir a todos, sem distinção, o direito ao conhecimento. Investigam práticas, posturas e gestos. O princípio de equidade chuta a canela da cultura que olhava com naturalidade a tragédia de uns aprenderem e outros não. Mas a equidade sem excelência corre o risco de consagrar o império da mediocridade. Afinal, o verdadeiro objetivo a ser buscado não é o mínimo denominador comum, nem um desempenho meramente razoável ou suficiente, mas um ensino de qualidade incontestável para todos.
A escola de verdade fabrica meios para que a mesma equação, a mesma análise, a mesma tabela, seja apreendida por qualquer educando, de qualquer canto e saldo. Até há pouco tempo, havia quem pensasse equidade como o direito de todos a uma escola, e ponto. Equivalia a diminuir o termo a um cisco. Trata-se do direito ao conhecimento, cuja percepção é tarefa da escola. É o que tem realizado a prefeitura de Curitiba. Depois de colher louros no Ideb pelas glórias de escolas como o São Luiz, o Marçal Justen, o Doutor Pedrosa, para citar três, teve a coragem de admitir que em muitos casos bem-sucedidos a escola fez pouca diferença. Aqueles alunos tirariam notas boas em qualquer situação. A constatação mexeu com a avaliação feita sobre quem tirava nota baixa. Entendeu-se que, tanto quanto festejar os êxitos de alguns, cabe garantir a outras instituições as mesmas condições de avanço.
No recém-publicado Repensando a educação brasileira, de João Batista Oliveira, presidente do Instituto Alfa e Beto, o autor solta farpas contra o que chama ensino pós-moderno, a educação que se rende ao relativismo e iguala qualquer opinião em nome das boas intenções pedagógicas. O resultado, sugere ele, é um blablablá sem fim, alheio à confirmação de dados e, pior, propenso à sonegação do conhecimento. "Tudo ficou horizontal", lamenta Oliveira.
O autor analisou dados da Prova Brasil entre 1999 e 2011 e mostrou que os resultados são pífios nas classes ABC, uma pena. Mas são piores ainda entre os que estão bem abaixo na pirâmide, sinal de que a educação contribuiu para aumentar a desigualdade, quando deveria fazer o contrário. O culpado? A falta de equidade, garantia de que todo e qualquer aluno pode "chegar lá". Pior do que isso: as escolas de elite no Brasil não são tão boas quanto poderiam ser, por falta de concorrência. O que fizerem está bom, pois não sofrem pressão de nenhum lado. Falta justamente o estímulo à excelência. Por acaso, é a mesma conclusão a que chegaram os técnicos da Secretaria Municipal de Educação, antes de se converterem. Bom saber que esses mea culpa estão surgindo. Resta o dia em que a sociedade irá às ruas para exigir que a escola pública seja tão boa quanto a privada, e que ambas sejam excelentes. Nesse dia, seremos uma nação. Em matéria de educação, convenhamos, gostamos muito é de falar. São cinco séculos de aprendizado. Em termos de equidade e excelência, a história está só começando.
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