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Na tentativa de entender por que os governos gastam mal o dinheiro público, o economista Milton Friedman listou quatro formas que cada um de nós tem de gastar seu dinheiro. São elas:

"Eu uso meu dinheiro para comprar coisas para mim." Nessa situação, eu me preocupo com preço e conteúdo. A preocupação com preço deriva da limitação de minha renda. A preocupação com conteúdo vincula-se às minhas preferências pessoais. Nesse jogo, serei sempre levado a tentar o melhor produto pelo menor preço possível. Isso é eficiência.

"Eu uso meu dinheiro para comprar coisas para os outros." Nesse caso, minha preocupação é mais com preço e menos com conteúdo. Quando uso meu dinheiro para comprar coisas para os outros, minha renda é que dita minha escolha, não o gosto do outro. Se puder conciliar ambos – preço e conteúdo –, tudo bem. Se não puder, o preço prevalece. A eficiência aqui fica um pouco reduzida, pois o outro pode não gostar – ou não precisar – do que lhe comprei.

"Os outros usam meu dinheiro para comprar coisas para mim." Nesse caso, a transação começa a ficar ineficiente, sobretudo quando é o outro que decide quanto de meu dinheiro ele vai gastar. É o que acontece com o governo: ele toma nosso dinheiro para comprar coisas para nós: justiça, segurança, saúde, educação, estradas etc. O problema é que os políticos e os burocratas decidem quanto de dinheiro será tomado de nós, que tipo de produtos vão nos oferecer e como vão fazer as compras.

Dá para imaginar que, nessa situação, abre-se uma imensa porta para a ineficiência e a corrupção. O governo não é bom para se preocupar com preço e conteúdo; e políticos e burocratas não são anjos. Embora muitos deles sejam honestos e competentes, a vida pública anda pródiga em atrair corruptos e incompetentes.

"Os outros usam meu dinheiro para comprar coisas para eles próprios." Esse é o pior caso: acontece quando os políticos e os burocratas usam nosso dinheiro para comprar coisas para eles mesmos. Não é preciso muito para entender que os escândalos dos cartões corporativos, os gastos excessivos com passagens, os salários de marajás, as 30 viagens internacionais de uma secretária de quinto escalão da Presidência da República e as fraudes nas licitações de obras públicas são apenas consequência da lógica do governo.

Roberto Campos, que era um gênio décadas à frente de seu tempo, costumava dizer que "em sendo impossível mudar a natureza do pecador, cumpre reduzir as oportunidades de pecado", para defender a necessidade de diminuir o tamanho do governo, aumentar as privatizações e restringir o campo de intervenções governamentais.

O objetivo principal dos políticos não é o bem-estar do povo, mas sua manutenção no poder. Na sobremesa, eles até pensam no povo, mas almoçam e jantam seus próprios interesses. O eleitor é um meio para a meta principal: conquistar votos. Se fazer um bom governo e mostrar eficiência forem pontos úteis para o sucesso eleitoral, então é possível ter bons governos. A tragédia começa quando, para se perpetuar no poder, os homens roubam, mentem e trapaceiam. Os maiores tiranos agiram em nome dos mais nobres ideais.

Por tudo isso, três coisas são necessárias: limitar os poderes do governo, fiscalizar os atos dos governantes e punir os corruptos. É o mínimo para conseguirmos que, ao gastarem nosso dinheiro, os governantes sejam mais eficientes e menos corruptos. José Pio Martins, economista, é reitor da Universidade Positivo.

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