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Finalmente os responsáveis pelos melhores aeroportos do mundo se interessaram na concessão de terminais no Brasil

A nova rodada de concessões de aeroportos, cujo leilão foi realizado na sexta-feira, teve um resultado muito melhor que o da primeira leva de privatizações, promovida em fevereiro de 2012. Embora o ágio tenha sido menor que naquela ocasião, os consórcios que arremataram os aeroportos do Galeão, no Rio de Janeiro, e Confins, em Belo Horizonte, têm como integrantes empresas reconhecidas globalmente pela administração de alguns dos melhores terminais do mundo.

O aeroporto carioca, o mais importante do leilão de sexta-feira, ficou nas mãos do consórcio Aeroportos do Futuro, formado pela Odebrecht e pela Changi, de Cingapura, que deu um lance de R$ 19 bilhões (ágio de 293%). Confins foi arrematado pelo consórcio AeroBrasil (CCR, Flughafen Zurich e Flughafen München), ao valor de R$ 1,82 bilhão, ágio de 66%. Changi, em Cingapura, é considerado atualmente o melhor aeroporto do mundo, em votação organizada pela consultoria Skytrax, especializada em aviação. Munique, na Alemanha, e Zurique, na Suíça, cujas administradoras fazem parte do consórcio vencedor de Confins, ficaram respectivamente em sexto e sétimo lugares na mesma pesquisa. Se a qualidade dos serviços verificada nesses três aeroportos for transplantada para o Rio de Janeiro e Belo Horizonte, o usuário brasileiro só tem a comemorar.

O ágio total do leilão de sexta, 251%, fica atrás dos 347% de 2012, mas a qualificação dos vencedores é incomparável. No ano passado, o parceiro estrangeiro no consórcio vencedor de Viracopos, por exemplo, foi a francesa Egis, com atuação na África, na Polinésia e no Chipre. Em Brasília, venceram os argentinos da Corporación América, que já chegou a dar calotes em concessões ganhas em seu país; e Guarulhos, o maior aeroporto do país, passou a ser administrado pela sul-africana ACSA, cuja única experiência fora da África do Sul se resumia a um terminal na Índia. Uma diferença fundamental entre os dois leilões foi a mudança na exigência de experiência dos concorrentes. Na concessão da semana passada, as empresas estrangeiras precisavam ter experiência em terminais por onde passam pelo menos 12 milhões (para Confins) e 22 milhões (para o Galeão) de passageiros por ano. Em 2012, a linha de corte ficou em 5 milhões, permitindo a participação de empresas cuja competência para lidar com grandes aeroportos, especialmente Guarulhos, era bastante questionável.

Mais uma vez é preciso dar crédito ao governo por reconhecer, ainda que com atraso e muita relutância, que a iniciativa privada pode administrar os aeroportos com muito mais eficiência que o poder público. O Galeão talvez seja o exemplo mais perfeito dessa situação. Reportagem da Folha de S.Paulo mostrou que o aeroporto tem escadas rolantes e elevadores fora de atividade, uma área de check-in que vive congestionada por filas e até banheiros onde falta papel higiênico. Já houve episódios de blecaute – o mais recente deles duas semanas antes do leilão – e problemas com o ar condicionado. A concessão dura 25 anos, mas uma data crucial é 2016, quando o Rio receberá os Jogos Olímpicos; diversas obras precisam estar prontas até lá.

O resultado talvez fosse ainda melhor se o governo, apesar de sua disposição para conceder os aeroportos à iniciativa privada, tivesse revisto a exigência da participação de 49% da Infraero nos consórcios vencedores. O Tribunal de Contas da União, ao analisar o leilão de 2012, já tinha recomendado que o governo mudasse essa regra, que acabou mantida no leilão de Confins e do Galeão. O próprio TCU indicava que esse grau de participação poderia atrapalhar o processo decisório e limitar ganhos de eficiência. O fato de isso ter espantado os grandes concorrentes no ano passado, mas ter sido relevado neste ano pelos players mais importantes só pode ser atribuído ao grande potencial futuro do transporte aéreo brasileiro e à ausência da necessidade de realizar obras urgentes para a Copa do Mundo de 2014. Reduzir o grau de interferência estatal nas próximas concessões é um caminho seguro para não se perder o interesse das grandes empresas estrangeiras e oferecer melhores serviços ao usuário dos aeroportos brasileiros.

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