Desde 2009, a indústria brasileira não amargava situação tão grave quanto a que vive agora. Segundo informa o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção recuou 3,2% em 2014. Somente em relação à indústria automobilística, o baque do ano passado em relação a 2013 foi de 16%. São números que fazem aumentar a expectativa de que estamos diante de cenários ainda piores, com possibilidade de retração do Produto Interno Bruto (PIB) de 2015 a níveis inferiores aos já pífios resultados dos anos anteriores.
O berço dessa crise pode ser localizado lá nos idos de 2009: a política econômica anticíclica colocada em prática pelo ex-presidente Lula e continuada por sua sucessora, Dilma Rousseff. Cantada em prosa e verso como um original "jeito" brasileiro e apresentada como panaceia infalível para contornar a crise mundial que desabou em 2008, a heterodoxia adotada já há tempos dava sinais de que se tratava de uma solução insustentável no médio e longo prazos. No início, houve festa: o Brasil foi apresentado ao planeta como um dos poucos que, graças ao engenho e arte de seu governo, havia conseguido manter a produção em alta e sobretudo preservar os empregos.
A receita consistia em estimular o consumo via desoneração de impostos de alguns setores estratégicos e oferecer crédito fácil e barato para quem quisesse comprar bens. Foi assim que, com IPI próximo do zero, as montadoras venderam milhões de carros e os fabricantes de móveis e de produtos da chamada "linha branca" nadaram de braçada na bonança que se seguiu. É fato que, ao contrário do arrocho e do desemprego vistos em outros países de economia frágil (a Espanha e a Grécia são bons exemplos), no Brasil ultrapassamos a fase ruim sem ir a pique.
A solução heterodoxa, que abandonou alguns dos pilares da estabilidade econômica e do equilíbrio fiscal, não poderia dar certo por tempo indefinido. Apesar do esforço oficial que insistia em afirmar que tudo corria bem, já há tempos a inflação em alta tratava de desmentir a propaganda; nosso PIB despencou; a infraestrutura não avançou; a balança comercial deu resultado negativo; o sempre perseguido superávit fiscal virou déficit; o real se desvalorizou a níveis não experimentados há mais de 10 anos; a corrupção e o descrédito generalizado nas instituições nos colocaram ao rés do chão.
Enfim, instalou-se a balbúrdia e, como não poderia deixar de acontecer, a errática política econômica a que fomos submetidos cobra agora o seu preço. Não apenas pelo lado do aumento da carga tributária, mas pela obrigação jogada nas costas dos contribuintes de pagar pelos desacertos como é o caso, para citar um exemplo, do reajuste estratosférico das tarifas de energia.
É claro que o quadro não é apenas desanimador. É também motivo da desconfiança que os setores produtivos demonstram em relação ao futuro, conforme demonstram pesquisas recentes. A produção industrial não vê perspectivas de recuperação no curto prazo. Não há empresário disposto a investir em seu negócio e a retração da indústria de bens de capital é um bom termômetro para confirmar a tese se não tiver o mínimo de segurança de que sobreviverá.
A desorganização da economia e o baixo crescimento significam de que também podemos estar perto de ver o agravamento de problemas sociais, representados pelo desemprego com o fechamento maciço de vagas de emprego (que já começou) e pela menor oferta de trabalho a partir de agora.
Ainda que com atraso, a presidente Dilma reconheceu a gravidade da situação e decidiu impor remédios amargos para devolvê-la a um terreno seguro. A questão agora é saber se as medidas adotadas são de fato as melhores e se haverá persistência no projeto de recuperação. E mais: quanto tempo ainda levaremos para restaurar a confiança e ver a luz no fim do túnel?
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